Rosa, 20 anos, deixou Cabo Verde para se instalar na Reboleira, um bairro pobre de Lisboa. Trabalha num bar para enviar dinheiro para os filhos. Presa entre o assédio dos mafiosos e a violência policial quotidiana, Rosa tenta encontrar consolo no seio das mulheres da comunidade. Mas o seu verdadeiro escape é a música…
Manga d’Terra, terceira longa metragem do luso-suiço Basil da Cunha, explora um universo que tão bem conhece, o Bairro da Reboleira, na Amadora, às portas de Lisboa. A personagem Rosinha, interpretada pela cantora cabo-verdeana Eliana Rosa, é uma aspirante a cantora que se divide entre trabalhar num café/bar para enviar dinheiro para os filhos que ficaram em Cabo Verde e tenta de forma aspiracional encontrar uma carreira na música. Mas a sua verve intimida os homens e as mulheres do Bairro, que a vêem como uma estranha, um ovni ou uma ameaça. Nunca está nada bem, mas a câmara à mão de Basil da Cunha acompanha com uma humanidade calorosa, os momentos em que está bem, em que se diverte, e em que canta. A música que dá também o título ao filme, em que Eliana Rosa encontra a música Acácia Maior, é densa, triste e cheia de sodade da “terra longe”, “meu manga d’terra”, onde as mangas são saborosas, por oposição ao sabor da vida que se vive em Portugal. Filme sensorial e intuitivo, é das mais belas obras de Basil da Cunha porque entra-nos pelo coração adentro – “terra luz que me viu nascer”. Completamente rendido. – Miguel Valverde