Greice, uma jovem brasileira de 22 anos, estuda Belas-Artes em Lisboa. Nos primeiros dias do verão Greice envolve-se com o misterioso Afonso. O casal é responsabilizado por um estranho acidente que ocorre na festa de recepção dos caloiros. Greice precisa, então, de voltar a Fortaleza. Escondida num hotel, enquanto evita que sua mãe descubra os apuros em que se envolveu, e contando com a ajuda de alguns amigos, Greice procura um lugar no mundo.
A certa altura, ainda o filme vai no início, uma personagem explica que “a Greice é amiga das circunstâncias, transforma o que é mentira em verdade e escreve de trás para a frente”. Refere-se, claro, à protagonista que dá nome ao novo filme de Leonardo Mouramateus, mas a personagem confunde-se com o filme, e também Greice inverte as noções de verdade e se constrói às arrecuas. Como é costume no cinema do realizador, a trama é uma complexa teia de indícios, onde facto e ficção, sujeito e olhar, objeto e representação se fundem e confundem. Só que em Greice esse jogo ganha requintes quase barrocos, onde tudo é sinal, onde a (auto)biografia se esconde num labirinto de espelhos e onde cada coisa reflete a coisa do lado (numa potência de infinito – que, no limite, consegue transformar a própria natureza bífida da produção luso-brasileira do filme num comentário meta-fílmico sobre a condição do realizador). Onde começa e acaba o (auto)retrato? Nem Greice nem Leonardo têm a resposta, porque a eles o que lhes interessa é o jogo da representação. – Ricardo Vieira Lisboa