Fátima diz que não sente nada, mas sonha com o polícia que se mudou recentemente para o apartamento ao lado. Vítor, o filho, usa secretamente a farda do vizinho na expectativa de que o rapaz que conheceu online sinta alguma coisa por ele. Júlia, a avó, quer fugir do lar, mas sente-se cansada de andar às voltas para não ir a lado nenhum. Uma espiral de insónias e ilusões noturnas leva a mal-entendidos e relações impossíveis, todos em busca de um pouco de ar.
Estamos no Ar, título da longa metragem de estreia de Diogo Costa Amarante, coloca-nos perante uma dualidade de entendimento. Por um lado a expressão indica o acto seguinte ao momento da descolagem numa viagem de avião: e é aqui que as personagens, Fátima (a mãe), Vítor (o filho) e Júlia (a avó), se encontram, no momento a seguir à mudança. Cada uma tenta conviver com aquele arrepio que sentimos a seguir à subida do avião e cada um deles à sua maneira tenta encontrar o seu espaço de conforto nesta viagem, que é a vida de cada um. Mas “estamos no ar” também significa que o programa de televisão está em directo, a ser emitido. E neste sentido, cada uma das personagens também assiste na plateia (literalmente esse é o trabalho de Vítor) à vida das outras, sem que tal interfira com as suas escolhas. Esta duplicidade narrativa quase matemática entrecortada por uma montagem segura e destemida, e uma fotografia deslumbrante assinada por Sabine Lancelin (responsável pela direcção de fotografia dos últimos filmes de Manoel de Oliveira), propõem um filme em tudo inesperado. Estamos no Ar é convidativo ao espectador, filma um Porto sem tempo, e deixa-nos preenchidos no fim. Aviso à navegação: se não tens humor fica em casa! Estamos no Ar é para quem gosta de cinema sem preconceitos. – Miguel Valverde