Sandy Bay, Tasmânia. Imogen e Audrey vivem isoladas, à procura de maneiras de articular a realidade num lugar que não combina com as suas vidas de jovens. On Plains of Larger River & Woodlands explora a paisagem cibernatural, enquanto nuvens sombrias carregam uma existência pós-apocalíptica.
Miguel de Jesus mudou-se, de câmaras e bagagens, para a ilha da Tasmânia (Tassie para as amigas). Vive e trabalha do outro lado mundo (literalmente) e, com os seus últimos filmes, vem refletindo sobre a posição do estrangeiro e deslocado – dele próprio, mas não só. O primeiro dos seus filmes a abordar a questão da distância (tanto geográfica como emocional) foi Ultimate Bliss (2002). Agora, com On Plains Of Larger River & Woodlands, o realizador lança-se na estranheza de um mundo que deslumbra e enfada. A partir do testemunho de duas jovens, ouvimos histórias de violência (sexual, psicológica, física) acompanhadas por imagens de um certo bucolismo exótico. É precisamente aí – na tensão entre o que se ouve e o que se mostra – que se acende a centelha da perturbação. Como diz a certa altura uma das raparigas, “se tivesse de descrever a Tassie numa palavra usaria ‘mundano’. Mas provavelmente não é verdade.” Entre a certeza das experiências (o sexo, as drogas, a prevalência das armas) e a pujança de um imaginário (fixado por representações mitológicas do olimpo), surge um retrato de uma geração atormentada pelo desapego do aborrecimento. – Ricardo Vieira Lisboa