Um realizador e a sua produtora executiva encontram-se com uma cartomante para conseguirem ter mais informação para a narrativa do seu próximo filme. Mais tarde vêem-se numa situação delicada, onde as previsões que foram feitas pela cartomante estavam bastante certas em relação ao casting do filme.
Depois de um episódio pícaro na rodagem de Palavra e Utopia (2000), em que um ator desesperado abandonou o set, Manoel de Oliveira imaginou o contracampo dessa situação com o ternurento Je rentre à la maison (2001). Bruno Ferreira, em Nunca Mais É Demasiado Tempo, parte de uma situação semelhante, mas ao invés de se preocupar com o ponto de vista do ator que falha a rodagem (“um filme com Iris Cayatte” mas sem Iris Cayatte), concentra-se na equipa que, na ausência de uma protagonista, tenta reinventar o filme à medida das adversidades. Porém, a graça do filme está nas suas ambiguidades. Onde termina o documento de um impasse e começa a encenação de um jogo? Ao exporem todas as costuras, ao revelarem os processos e ao inverterem as lógicas narrativas (pelo menos na sua aparência), Bruno Ferreira e Raquel da Silva (co-argumentista) transformam as incertezas de um embaraço num exercício lúdico sobre a tessitura do cinema. Para isso deixam-se conduzir pelas capacidades “holísticas” de uma cartomante que (d)escreve o filme à medida que ele se vai montando diante dos nossos/seus olhos. Restam as dúvidas e uma só certeza: o destino é uma arte cursiva que se deixa levar pela torrente da (re)escrita. – Ricardo Vieira Lisboa