Num futuro próximo, na Alemanha, as pessoas queer estão cada vez mais à margem e sob ameaça. No último dia de inverno, Omar é libertado da prisão. Como primeira paragem visita Ava, a sua melhor amiga, que não esperava vê-lo.
Se, em Histórias de Fantasmas (exibido no IndieLisboa em 2018), Carlos Pereira já refletia – num “tríptico críptico” – sobre a busca do que “já fora” (o fogacho de um relâmpago, um rosto no escuro, um pintor de ruínas), em Slimane o objetivo do realizador é filmar uma ausência. Num futuro, tão distópico quanto o presente, Omar sai da prisão para descobrir que, na sua ausência, muito mudou: a perseguição de pessoas queer normalizou-se na Alemanha e o seu grupo de amigos desintegrou-se. No centro do filme está o desaparecimento de Slimane (presumivelmente o parceiro de Omar) e no meio de Slimane (o filme) está um plano sequência onde, em cerca de cinco minutos, tudo fica dito sem que para isso se digam muitas palavras nem se veja mais do que um papel de parede desfocado seguido de um abraço. O vazio desse “centro” literaliza a ausência do protagonista, o desaparecimento de um modo de vida e perda de uma comunidade. Diante dessa estrada que se percorre de costas, sobra o brilho das memórias e fúria da dança. – Ricardo Vieira Lisboa