Um grupo de amigos performers fazem uma experiência sobre espaço e duração, corpo e dança. Um deles salta repetidamente de uma estrutura sem nenhuma finalidade aparente, outros observam, enquanto alguém mais habita a casa em processo de construção.
Depois de Salsa (2020, também rodado na Argentina), Igor Dimitri propõe, em Ensaio & Repetição, uma série de associações enigmáticas: um edifício em remodelação transforma-se num espaço coreográfico, as marteladas de um trolha justapõem-se aos gestos encenados do parkour, por entre sacas de cimento e entulho orquestram-se saltos e cambalhotas, e a tudo isto juntam-se provérbios populares. Dimitri agrega estes elementos através de uma montagem que cola os movimentos dos corpos aos raccords, de modo a que filme, espaço, corpo e língua se fundam numa série de “ensaios e repetições” formais. O prédio em construção reflete-se no bailado em “processo” e ambos se traduzem num filme onde a qualidade ensaística é levada à letra. Às paredes falta o reboco e aos gestos o apuramento, já o filme concretiza-se no prazer pelo processo de criação, pela beleza do inacabado. E eis que a película estanca, o movimento congela, o espaço evapora-se e – subitamente – descobre-se uma unidade orgiástica nos corpos que não têm nem princípio nem fim. – Ricardo Vieira Lisboa