COMPETIÇÃO Alice Diop entra no mundo da ficção contando a história de Rama, uma professora de literatura e romancista que viaja até Saint-Omer para acompanhar um julgamento, estando nos primeiros meses de gravidez. No lugar do réu está Lawrence Coly, uma estudante imigrante senegalesa acusada de ter deixado a filha, com pouco mais de um ano, abandonada na praia. A afinidade que Rama sente face à experiência de vida de Lawrence deixa-a apreensiva em relação ao seu futuro.
Uma mulher negra julgada em um tribunal francês. Imigrante senegalesa, ela é acusada de assassinar a sua filha de 15 meses. Confirma que o fez, mas se declara inocente. Outra mulher negra, escritora, filha de uma migrante também senegalesa e à espera de ser mãe está a assistir o julgamento, procurando uma maneira de contar a história desta moderna Medeia. Com esta personagem a aclamada documentarista Alice Diop (Nous, IndieLisboa 2021), inscreve a si própria, o seu percurso e o seu olhar artístico no seu primeiro longa-metragem de ficção. Saint Omer é baseado em um tribunal verdadeiro, o qual a diretora presenciou, e coloca em julgamento tanto a protagonista quanto a experiência das migrantes africanas na França pós-colonial. Por trás de cada palavra e de cada olhar, entre as respirações e as lágrimas das mulheres, Alice Diop revela os monstros ocultos do passado. Indo além do mero drama de tribunal, o elétrico e épico filme questiona a tragédia da condição humana: podemos de fato separar o monstro do humano? (Anastasia Lukovnikova)