COMPETIÇÃO Stefan é um construtor civil romeno a viver em Bruxelas e a preparar-se para quatro semanas de férias que, avisa os amigos e família, podem demorar mais tempo. Com o frigorífico esvaziado e o cansaço de noites por dormir, acaba por se cruzar com Shuxiu, uma jovem que trabalha num restaurante pequeno enquanto vai tirando um doutoramento focado no ecossistema do musgo. E é assim que duas pessoas que podiam desencontrar-se no mundo, se vêem unidas pelo acaso.
A mais recente fábula do belga Bas Devos, vencedor do prémio de melhor filme da secção Encounters, do Festival do Berlim, incita-nos a prestar atenção ao aqui e agora, neste mundo cada vez mais disperso e vertiginoso.
O filme pode ser resumido como uma história de amor, com diversos elementos narrativos aparentemente típicos, dentro do género. Um encontro fortuito entre dois estranhos, um com partida iminente, o outro que permanece. Contudo, é nos entretantos e no tratamento singular desses elementos e das pequenas acções e interacções em geral que vislumbramos a sensibilidade com que este autor nos expõe sem lições de moral a importância da conexão entre seres, sejam eles humanos ou naturais, como o musgo que nos rodeia. Ouve-se os ecos da teoria da ficção como cesta, da Ursula K. Le Guin, fonte de inspiração para Devos. Uma abordagem não linear que desconstrói a ideia de um herói em progressão face a um conflito mas abre espaço para uma complexificação mais realista e natural que pode começar pela simples partilha duma sopa caseira. (Susana Santos Rodrigues)
