Uma falha de comunicação entre Kitagawa e Sakaguchi leva a que a nossa protagonista se torne, bem por acaso, na pessoa contratada para fazer um vídeo turístico sobre a cidade. Este é o primeiro de uma série de encontros que vai desenhando a narrativa numa Kawaguchi (Tobako, no filme) deserta, onde se medita a desorientação metafórica de Sakaguchi.
Uma cidade filmada por uma câmera torna-se um espaço abduzido por infinitas realidades. GARDEN SANDBOX, de Yukinori Kurokawa, é disparada a partir de Sakaguchi, uma mulher contratada para realizar um vídeo turístico de uma cidade industrial decadente nos arredores de Tokyo. O gatilho, mediado pela arma que o realizador também lança mão, torna-se um catalisador de espaços e pessoas em movimento que se expandem de maneiras insuspeitas. Neste trabalho de cinefilia profunda, a cidade fictícia de Tobako (que signfica “dez caixas” em japonês), reflete o roteiro estruturado a partir de fait divers que atravessam grandes fundições e outros espaços íntimos. Os desdobramentos de um pequeno romance não-correspondido se fundem a um casamento de pessoas desconhecidas, longas caminhadas e a uma festa que torna-se um espaço seguro destes personagens. Dentro de uma cidade que colapsa e tenta se adequar a outros tempos, o cinema torna-se um lugar de proteção diante de um mundo que teima em desmoronar. (Lucas Camargo de Barros)