COMPETIÇÃO A vida de Gigi não difere muito de dia para dia, o que não quer dizer que não seia uma rotina plena de encanto. Esta, contudo, sofre um abalo quando acontecimentos com um travo amargo e sinistro começam a manchar a paisagem charmosa. Dois suicídios, uma investigação policial e o ocasional romper de uma canção mostram uma comunidade bonacheirona com um pé entre a realidade e a fantasia.
Neste filme lúdico e luminoso, Alessandro Comodin segue Gigi, um polícia rural que controla o tráfico numa pequena aldeia no norte de Itália e que é também tio do realizador.
O filme constrói um dispositivo que permite ao seu protagonista desdobrar-se de forma ampla, alegre e generosa, partilhando desde o mais concreto e rotineiro da sua vida até ao mais fantástico e imaginário. Durante uma grande parte do filme, o espectador entra como terceira presença no carro patrulha, desfrutando da conversa entre o dispositivo cinematográfico e a verborreia profundamente fabulosa e inventiva de Gigi, o que nos mantém sempre entre a perplexidade e a sedução.
Gigi la legge funciona assim como um retrato da vida numa pequena cidade que vai para além dos lugares comuns e lacônicos e se abre a todas as suas pequenas maravilhas e mistérios, por mais perturbadores e macabros que sejam. (Vanja Milena)