FORA DE COMPETIÇÃO “Quero perceber se tenho alguma criatividade em mim”. É o sentimento que ecoa num actor que decide fazer um filme, mas ainda está à procura da história que vai contar. Espera pela luz certa, pela melhor forma de capturar o horizonte, mas acaba por ser uma conversa o que vai despertar a sua inspiração.
O prolífico realizador coreano inaugura sua filmografia em 2023 com este filme que radicaliza a sua linha de trabalho de produções mais pequenas, onde parece abrir uma nova exploração formal dentro do seu cinema. Se Hong Sang-Soo já foi conhecido pelo seu uso particular do zoom, que conseguiu aperfeiçoar dentro nos seus jogos narrativos, em in water quase todo o filme, com excepção de uma cena, está desfocado. Uma decisão que ele próprio diz ter sido tomada no último minuto e que se imprime na qualidade aquosa referida no título.
O gesto remove a definição precisa do digital, mas a emocionalidade que tece esta pequena história está longe de ser indefinida. Na pior das hipóteses, in water será uma raridade na carreira de Sang Soo, mas na melhor das hipóteses anuncia o início da experimentação formal no seu cinema. Entretanto, a subtileza e a beleza emocional da sua narrativa permanecem intactas e grandiosas, como mostra a cena final do filme. Viva Hong! (Vanja Milena)