Um filme que joga com enganos. O trompe-l’œil é, em si mesmo, um género pictórico pensado para brincar e criar elementos de confusão na percepção do espectador. O filme vai-nos passeando pelas ruas de Madrid em busca destes ingredientes, mas também os cozinha numa receita própria do seu cinema.
A começar pelo cartão de abertura, quando Elena Duque coloca uns olhinhos autocolantes (“googly eyes”) nos dois O’s da palavra “ojitos”, fica claro o método lúdico que a realizadora empregará neste pequeno filme: o jogo de palavras, a literalização dos duplos sentidos, a manipulação (porque manuseado) da imagem e a interrogação brincalhona dos sistemas de representação. Daí em diante, as surpresas são muitas: nada é o que parece (os olhos mentem…) e a imagem vai-se decompondo, perdendo progressivamente o seu valor indexical até chegar à pura iconografia. Da fotografia ao trompe-l’oeil urbano (os prédios em obras disfarçados por lonas de fachadas imaginárias), passando pela imagem dentro da imagem, a projeção dentro do filme, a sombra (como imagem primitiva) e, claro, o espelho, Elena Duque convoca todos os dispositivos visuais para refletir – humoristicamente – sobre o poder transformador do olhar (e da câmara de filmar). (Ricardo Vieira Lisboa)