Com Isabelle Huppert (na terceira colaboração com o realizador), Lee Hyeyoung, Kwon Haehyo, Cho Yunhee, Ha Seongguk — este filme segue uma mulher francesa na Coreia do Sul cujos comportamentos não são totalmente fáceis de entender por quem a rodeia. Dedicada à bebida alcoólica makgeolli e entretida a tocar um piano para crianças, vai acabar por descobrir um talento especial para ensinar um pouco da sua língua através da poesia.
Iris (Isabelle Huppert) ganha algum dinheiro a ensinar francês, mas não é exatamente uma professora como as outras. Iris não precisa de manual e parece ecoar Hong Sangsoo e o seu trabalho de escrita em work-in-progress. As aulas de Iris nunca se parecem com aulas: ela é a bandida simpática de uma comédia suja ou uma sábia misteriosa que investiga os sentimentos ocultos dos seus alunos? Provavelmente um pouco dos dois e isso cria um motor de comédia sólido. “O que sente realmente por dentro? » pergunta Iris insistentemente. Esta é uma pergunta que poderia ser feita a praticamente todos os personagens de Hong Sangsoo. Esses mesmos personagens que podem perguntar, como sugere Iris: “Quem é esta pessoa dentro de mim?”.
Encontramos em A Traveller’s Needs a dificuldade em dizer e articular o que sentimos, o que realmente sentimos – com ou sem a barreira da língua estrangeira. Como uma conversa fiada inconsequente, todos começam a dizer a mesma coisa, sem pensar, de uma forma ao mesmo tempo absurda, engraçada e comovente. Um constrangimento social, neste filme onde até os beijos são estranhos. Qual o idioma que os personagens de Hong Sangsoo têm em comum? Certamente poesia, escrita nas paredes, linguagem codificada e preciosa que não devemos abandonar, ouvida mesmo numa língua estrangeira que não entendemos. (Mickael Gaspar)