É com um sentimento de estranheza e inquietação que o filme vai desenrolando as suas histórias sobre migrações em sentidos opostos, do campo para a cidade (quando Joana se muda para São Paulo, perto da irmã Tania) e vice-versa (quando Flavia se muda com Mara para a casa abandonada do pai), com as vicissitudes que todas as mudanças trazem. Mas esta abre também a porta da memória e dos fantasmas que trazemos connosco, andemos por onde andarmos.
Apartadas por um ponto e vírgula, um sinal ortográfico que indica uma pausa maior do que uma vírgula mas não tão profunda como o ponto, CIDADE; CAMPO, de Juliana Rojas (de volta à Silvestre após o IndieLisboa 2017), nos apresenta duas narrativas de deslocamento e espaços em transformação. Joana teve que deixar o campo após sobreviver a um crime ambiental hediondo no interior de Minas Gerais e se muda para São Paulo na casa de sua irmã e neto que pouco conhecia. Já Flávia deixa a cidade com sua namorada para se deparar com a memória de um pai distante que acabou de morrer. A experiência destas mulheres que mergulham em universos distintos e paralelos, é narrada com a rigorosa encenação de Rojas e ao mesmo tempo um olhar afetuoso para suas vidas. Enquanto memórias e fantasmas se misturam ao concreto e à terra, uma fresta de amor teima em sobreviver. (Lucas Camargo de Barros)