Foram finalmente revelados alguns dos Prémios IndieLisboa2024 e vão poder ser (re)vistos, no Cinema Ideal, nos próximos dias 3, 4 e 5 de Junho.
GRANDE PRÉMIO DE LONGA METRAGEM CIDADE DE LISBOA
Rising up at Night, de Nelson Makengo
Declaração do Júri
Decidimos atribuir o prémio a um filme urgente e fascinante, que retrata a vida de comunidades que vivem na escuridão, uma forte metáfora para a vida vivida em condições extremas.Um filme feito com uma comunidade dentro do seu modo de vida que se torna a estética do filme. O filme nos aproxima de pessoas às quais raramente prestamos atenção. Aqui está um filme que mostra qual o papel que o cinema pode desempenhar na revelação e expressão da condição humana no Congo e em África. Sentimos que é um trabalho muito necessário e através deste prémio queremos apoiar a visão do realizador e incentivá-lo a continuar o seu trabalho como cineasta.
Menção Especial
El Auge del Humano 3, de Eduardo Williams.
Declaração do Júri
Decidimos dar uma menção especial a El Auge del Humano 3, pela experiência imersiva e singular habilmente conseguida através de formas inovadoras de explorar a experiência de grupo entre a realidade humana e a natureza.
PRÉMIO ESPECIAL DO JÚRI CANAIS TVCINE
Rising up at Night, de Nelson Makengo
GRANDE PRÉMIO DE CURTA METRAGEM EMEL
The Oasis I Deserve, de Inès Sieulle
Declaração do Júri
O prémio principal do programa da competição internacional de curtas-metragens vai para um filme que através de imagens pouco nítidas e abstractas, acompanhadas de um som etéreo, revela a forma como tratamos o nosso reflexo no espelho.Revela não o que há de bom em nós, mas sim os cantos mais obscuros de nós próprios. O reflexo, sob a forma de inteligência artificial, torna-se mais humano do que o seu dono e uma vítima dos nossos caprichos egoístas. O filme também questiona quando é que a máquina se torna realmente viva. Será que é quando atinge um certo nível técnico ou quando nós, humanos, começamos a gerar emoções em relação a ela? Numa época em que nós, enquanto humanidade, não conseguimos reconhecer o sofrimento e nos negamos a uma empatia básica que costumávamos possuir, torna-se cada vez mais claro que precisamos de repensar o que defendemos e o que não podemos aceitar.
Prémios Especiais do Júri
Matta and Matto, de Bianca Caderas & Kerstin Zemp
Declaração do Júri
Esta narrativa imersiva perturba-nos desde o princípio. Adoramos a dualidade entre a sensação de estranheza e poética em que somos envolvidos ao longo de todo o filme. Em apenas dez minutos fazemos uma viagem emocional completa. Na primeira parte do filme sentimos uma estranheza e uma tensão conseguidos não só através dos cenários detalhados, mas também através dos personagens “estranhos”. Tudo reforçado pelo ambiente sonoro de fundo e pela paleta cromática escolhida. De repente, ficamos imersos num desfecho surpreendente, e o desconforto que sentimos anteriormente transforma-se em empatia e felicidade e faznos sorrir sem parar.
The House is on Fire, Might as Well Get Warm, de Mouloud Aït Liotna
Declaração do Júri
Muitos dos filmes deste ano reflectem sobre o que significa sair de casa. Essa ansiedade assume uma forma específica quando partir é uma escolha. Este filme ocupa os dias que antecedem essa partida, quando as ações mais familiares como comprar leite numa loja de conveniência ou tomar o pequeno-almoço com os pais, se transformam em experiências existenciais preciosas. Se pararmos para pensar demasiado tempo, não apanhamos o autocarro, o barco ou o avião. Esta ambivalência é sentida em aldeias de todo o mundo, mas neste caso, trata-se de uma aldeia Kabyle. Por articular esse sentimento com precisão – tanto o humor como o desgosto – damos o prémio especial do júri a The house is on fire, might as well get warm.
PRÉMIO MAX PARA MELHOR LONGA METRAGEM PORTUGUESA
O Ouro e o Mundo, de Ico Costa
Declaração do Júri
Pela perspectiva delicada de retratos de laços sociais numa comunidade que enfrenta o êxodo como forma de sobreviver. Por usar uma gramática simples e direta. Sem necessidade de ginástica fotográfica, sendo fiel às personagens e às suas vidas…
PRÉMIO MELHOR REALIZAÇÃO PARA LONGA METRAGEM PORTUGUESA NOVA FCSH
Mãos no Fogo, de Margarida Gil
Greice, de Leonardo Mouramateus.
Declaração do Júri
O Júri atribui dois prémios por decisão unânime.
Ao honrar uma forte tradição do cinema português, por lidar com a arte por vezes esquecida do enquadramento, o Júri atribui Melhor Realização para Margarida Gil por “Mãos de Fogo”.
Representando uma geração mais jovem, e pelo fluente sentido de ritmo numa história que liga espaço e tempo, estabelecendo pontes entre Portugal e o Brasil, o Júri também atribui Melhor Realização a Leonardo Mouramateus, por “Greice”.
PRÉMIO PARA MELHOR CURTA METRAGEM PORTUGUESA
Tão Pequeninas, Tinham o Ar de Serem Já Crescidas, de Tânia Dinis
Declaração do Júri
Esta é uma história de uma época em que as mulheres eram quase invisíveis na sociedade portuguesa. Aqui somos apresentados não apenas a uma história em andamento, mas também às reações ao que essas memórias representam. E neste filme a consciência de classe está dentro da mise en scène.
PRÉMIO NOVO TALENTO THE YELLOW COLOR
Nunca Mais é Demasiado Tempo, de Bruno Ferreira
Declaração do Júri
Quando tudo parece estar a ir pelo caminho errado, podemos acertar. Aqui nada nem ninguém está em modo de ‘overacting’, nem mesmo a própria natureza. Devemos também referir um design de som que não procura fazer o que as imagens não conseguem. No final, esperemos que as cartomantes não se tornem consultoras criativas.
Menção Especial
Kudibanguela, de Bernardo Magalhães
Declaração do Júri
Não é fácil enquadrar a vida num ambiente fechado. Num quarto escuro, a luz do sol representa a liberdade perdida. Com economia de palavras, quase tão poucas como as de um pequeno recado em papel, esta curta-metragem acolhe a chegada de novos talentos ao cinema português.
PRÉMIO NOVÍSSIMOS
Campos Belos, de David Ferreira
Declaração do Júri
Uma criança que se benze, para evitar sofrer as consequências de chegar atrasada à escola. Um cão na noite que se quer soltar da trela, quem sabe por antecipar o que aí vem. Neste filme o tempo e o espaço marcam as diferentes fases da vida. A câmara flui sensível e inteligentemente entre os lugares, e descreve sem rodeios, através dos gestos e olhares das suas personagens, numa notável mise-en-scène, a dureza desta nossa viagem solitária. O júri foi unânime ao atribuir o prémio de melhor filme da competição Novíssimos àquele que, para nós, constitui a melhor proposta de gesto cinematográfico.
Menção Especial
Tanganhom, de Vítor Covelo
Declaração do Júri
Pequenos lugares e superstições, um casamento antigo na cinematografia deste nosso país na fronteira de todo um continente. Contudo, nem sempre esse casamento é bem sucedido como aqui, neste que é também um filme de fronteiras, entre aquilo que vemos e aquilo que imaginamos. Pela sua beleza e respeito pela memória colectiva, o júri da competição Novíssimos decidiu atribuir uma menção especial a “Tanganhom” de Vítor Covelo.
PRÉMIO SILVESTRE PARA MELHOR LONGA METRAGEM
La Chimera, de Alice Rohrwacher.
Declaração do Júri
O júri de Silvestre atribui o prémio a um filme tão selvagem e livre como sugere o nome da secção: “La Chimera”, de Alice Rohrwacher. É a história de um homem perdido, vagabundo e ladrão de túmulos, cujos devaneios evocam imagens poderosas da história, de seu próprio passado e de memórias ligadas aos objetos roubados. O contraste entre uma conexão espiritual e uma busca materialista cria uma narração poética e captura lindamente o amor e a essência da morte. Se o filme está impregnado de perdas e tristezas, ainda assim consegue transmitir esses temas de uma forma alegre. É uma obra multifacetada – parte comédia, parte aventura e parte drama – que capta vividamente a essência do território de Silvester. Através de discussões emocionantes, selecionamos por unanimidade este filme como o mais realizado. É uma obra de grande liberdade, que consegue desenvolver uma linguagem cinematográfica lúdica e original e ao mesmo tempo acessível. Gostamos de conhecer e conversar sobre todos os filmes da programação e gostaríamos de agradecer de coração à equipe do festival por nos proporcionar esta maravilhosa oportunidade.
PRÉMIO SILVESTRE PARA MELHOR CURTA METRAGEM ESCOLA DAS ARTES
Zima, de Kasumi Ozeki e Tomek Popakul
Declaração do Júri
Um retrato sombrio e ousado da angústia adolescente, da disparidade geracional e da incerteza política; de isolamento e morais conflitantes, os diretores reúnem tudo isso num estilo peculiar e único, deixando o espectador brincar com possíveis significados.
Two Wars, de Jan Ijäs
Declaração do Júri
Uma abordagem muito curiosa e lúdica ao poder da imagem em movimento na formação da nossa percepção da realidade e da história (do cinema), a menção especial vai para , “Two Wars”, de Jan Ijas.
PRÉMIO INDIEMUSIC
Com Amor, Medo, de Telmo Soares.
Declaração do Júri
Desde logo, este filme marcou o júri pela sua estética, pela beleza da filmagem e enquadramentos que revelam maturidade artística atrás da câmara. E os outros elementos que nos conquistaram, cruciais para quem faz música, mas que aqui ganham uma outra dimensão: A busca pela liberdade, a força imensurável do espírito humano, vontade de fazer, de criar e de partilhar com outros. A música como acto incessante de coragem num mundo de obstáculos contínuos, para muitos de nós invisíveis, aparentemente pequenos nadas, mas verdadeiras montanhas árduas e quase impossíveis de transpor. Quase! O filme mostra que com a força do rock, atitude punk e muito amor, tudo é possível.
PRÉMIO AMNISTIA INTERNACIONAL
There is No Friend’s House, de Abbas Taheri
Declaração do Júri
Pela sensibilidade e profundidade com que aborda a situação dos direitos humanos, em particular os das mulheres, no Irão. É um filme que nos seduz, enquanto espectadores, através da exposição das tensões interiores das personagens e, em seguida, nos confronta com as contradições e os medos das mesmas personagens. De uma forma simples, mas cativante, o filme transporta-nos para uma realidade em que a suspeição e o medo estão continuamente presentes em todos os momentos da vida. Com uma agravante: a censura é exercida entre iguais, sem ser necessária sequer a presença explícita das autoridades.
PRÉMIO ÁRVORE DA VIDA
Banzo, de Margarida Cardoso.
Declaração do Júri
E o vencedor do Prémio Árvore da Vida é uma ficção com densidade romanesca que, ao jeito de Joseph Conrad, mostra as colónias africanas como um inóspito teatro de espectros e zombies, entre nostalgias fatais e um mal-estar civilizacional sem retorno.
Menção Especial
Contos do Esquecimento, de Dulce Fernandes
Declaração do Júri
Atribuímos uma menção honrosa a um documentário que, entre uma escavação arqueológica e um infamante artefacto num museu, faz uma história das indignidades coloniais, ajudado por um aparato formal abstracto, austero e apavorado.
PRÉMIO MUTIM
Clotilde, de Maria João Lourenço
Declaração do Júri
As juradas consideraram que este filme revela um trabalho laborioso, feito quase a solo, em que num curto espaço de tempo se apresentar com grande criatividade uma história complexa e ousada. Trata-se de um filme sobre as possibilidades do desejo, exploradas sem tabus e com muito humor, sem nunca cair no lugar-comum.
Menção Especial
Conseguimos Fazer um Filme, de Tota Alves
Declaração do Júri
Neste filme a realizadora consegue criar uma relação de enorme à vontade entre as crianças e o jogo de cinema, deixando transparecer a beleza do “Nós” que atravessa todo o filme.
PRÉMIO QUEERARTLAB
Cidade; Campo, de Juliana Rojas
Declaração do Júri
Um colapso ecológico e capitalista que desagua num rizoma de coletividade que resiste e existe através das tecnologias de comunicação de uma ancestralidade inter-geracional e inter-espécies. Em terras violentadas pelo agro-negócio colonialista, um amor queer tão tesudo e profundo cria um futuro que cura expansivamente.
PRÉMIO ESCOLAS PARA MELHOR CURTA METRAGEM PORTUGUESA
Kudibanguela, de Bernardo Magalhães
Declaração do Júri
Primeiramente, analisamos a composição técnica da curta: a montagem do filme está bem concebida e a edição bem estruturada dado à maneira como retrataram a opressão das minorias apresentadas. A atuação foi essencial para a conexão com os espectadores. Para além disso, a iluminação mostra as emoções nas cenas que, exemplificando, completam-se com o jogo de xadrez e a sua simbologia. Não obstante, a iluminação mostra a frieza dos acontecimentos, nas expressões dos atores e a sua plasticidade. A mensagem transmitida foi importante para nós como jurados. Isto justifica-se pelo tema, devido à sua relevência nos dias atuais. Achamos que está tudo muito bem concretizado, a essência foi transmitida com clareza. O prémio do Júri escolas para melhor curta metragem portuguesa vai para Kudibanguela.
Menção Especial
Nocturno para uma Floresta, de Catarina Vasconcelos
Declaração do Júri
Nocturno para uma Floresta foi uma curta-metragem imersiva que merece reconhecimento. A equipa conseguiu expressar muito o papel das mulheres na mata do Buçaco.
PRÉMIO UNIVERSIDADES PARA MELHOR LONGA METRAGEM PORTUGUESA
Banzo, de Margarida Cardoso
Declaração do Júri
Sob a égide do lugar incómodo do silêncio, a trama propícia ao espectador uma leitura intervencionista dos acontecimentos de São Tomé e Príncipe durante a era colonial. Amordaçados pelo medo, as personagens dão corpo à urgência do desenvolvimento de um olhar opositor e instigante, diante de um regime monopolizado pelo silêncio. O espectador, observando o passado retratado no filme, é munido com as ferramentas necessárias para a construção coletiva de um futuro primoroso e transgressor. O Júri Universidades dedica o prémio a Banzo de Margarida Cardoso
Menção Especial
O Ouro e o Mundo, de Ico Costa
Declaração do Júri
O Júri Universidades prestigia a ativa participação e o diálogo estabelecidos reiteradamente do início ao fim do Festival IndieLisboa, fomentando a abertura de novas formas de pensar o cinema contemporâneo. Além disso, o Júri Universidades sente a necessidade de pontuar a participação de membros da comunidade académica no contexto sociopolítico vigente, no que diz respeito à intransigência com o seu direito à manifestação. A Competição Nacional, bastante acirrada, fez com que nos confrontássemos com dois filmes dignos de vitória. Os discursos mobilizados nas duas tramas possibilitaram o seu cruzamento no campo desafiador do cinema: o olhar do espectador. Por essa razão, a nossa menção honrosa destina-se ao olhar pós-colonialista sobre a realidade de Moçambique: entre a precarização do trabalho no contexto do capitalismo tardio, as chagas do colonialismo e os sonhos não alcançados, o Ouro e o Mundo de Ico Costa fincam as suas raízes no debate contemporâneo.
PRÉMIOS DO PÚBLICO
Longa Metragem
No Other Land, de Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal e Rachel Szor
Curta Metragem
Conseguimos Fazer um Filme, de Tota Alves
IndieJúnior
A Padaria do Boris, de Masa Avramovic