Astracã é a cidade russa, 1979 o ano recordado. Um ano e meio e uma viagem que abarca muitos quilómetros percorridos, de Moscovo ao Mar Cáspio, até ao Azerbaijão. O início da jornada é a busca por um porto seguro. Os pais de Martim, de 15 anos na altura, são militantes do Partido Comunista e veem a União Soviética como ideal a aspirar. Aos 57 anos, Martim recorda a clandestinidade, os estudos e as paixões deixadas para trás e o ideal perdido no tempo.
Um coming of age híbrido em torno da história de Martim que aos 15 anos, em 1979, alguns anos depois da Revolução de 25 de Abril, parte rumo a Astracã para aprender o ofício de pescador. A história pessoal mescla-se com a história sociopolítica, o ideal comunista e a realidade da União Soviética, tabus do passado têm ressonância no presente. Uma sucessão de subentendidos e omissões intergeracionais é trazida à luz discretamente numa conversa entre pai e filho. A viagem inicia-se com os postais que o jovem adolescente Martim terá escrito aos pais, recria a viagem e estadia naquelas terras através de material de arquivo e momentos de reconstituição poética até que o voltamos a encontrar no momento presente, em que conta ao filho sobre esta aventura e até que ponto o afectou a ele e à sua família… e nessa partilha ouvimos o eco do não-dito através das gerações. (Susana Santos Rodrigues)