Uma peixinha que levada ao ouvido murmura que está viva. Uma vila onde as crianças não conhecem a morte. Na sua primeira longa-metragem, Alexander David cria uma comunidade sem adultos, onde as crianças se regem por rigorosos preceitos e onde a perda da inocência é a consciência de um mundo para além da sua ilha.
Um dos muitos encantos da Primeira Idade é a forma peculiar de ver o mundo – um mundo que é uma ilha onde aparentemente vivem apenas crianças – construída sob uma perspectiva que pertence às crianças e evita a apologia ou demonização. O filme convida a entrar no seu universo sensual e alegórico onde o conceito de maioridade não tem existência. Os mais velhos escondem-se na floresta ou participam num ritual que põe à prova a crença na vida eterna.
O escritor psicoanalítico Adam Phillips escreveu num ensaio “Não é simplesmente que as regras foram feitas para serem quebradas: as regras dizem-nos que há algo para quebrar”. E é esta outra das grandes magias da estreia na realização do actor Alexander David, permite-nos entrar num admirável e insólito universo, perdido no tempo, com o frescor e a curiosidade da descoberta dos seus protagonistas mas também dele próprio pela primeira vez no território da realização ficcional, sem deixar de nos interpelar a nós espectadores, no momento presente. (Susana Santos Rodrigues)