Duas histórias separadas pelo tempo e unidas pelo conceito de dildo de cerâmica. Nos dias contemporâneos, Rebeca experimenta o fabrico artesanal de dildos que não seja totalmente dominado pela imagem heteronormativa e fálica costumeira. Séculos antes, uma descoberta de um objecto semelhante liberta uma relação ilícita.
Uma pessoa que faz cerâmica explica porque começou a fazer dildos: questões económicas, vontade de contrariar a indústria dos brinquedos sexuais, poder fugir – tanto quanto possível – às formas fálicas, explorando novos materiais e texturas. Eis senão quando o filme passa do estilo documental para os domínios da fábula musical, com recolhidas vestidas com hábitos em tempos idos. Isto porque, nos arquivos da Inquisição se descobriu a história de Josefa, que amava mulheres e recorria a objetos (dildos) para estender o seu prazer e o delas. Dildotectónica (a arte de construir dildos) é um filme que combina fantasia histórica com arquivos e desejo telúrico com romantismo transtemporal, através de soluções narrativas que desafiam quaisquer convenções fílmicas. O resultado é uma doce lenda cantada sobre a possibilidade de ressignificar o passado, de recuperar figuras esquecidas pelo cânone histórico e de refundar os mitos do amor. (Ricardo Vieira Lisboa)