O rame-rame do dia-a-dia. O trabalho burocrático, a custódia partilhada da sua filha. Até à morte da sua mãe sublinhar o quanto Helena vive num meio termo, entre nascimento e morte. A clareza que traz o luto, visto com olhos nostálgicos mas cheios de humor, leva a novas considerações sobre como viver o resto dos dias.
É possível vermos a nossa própria vida (e a dos nossos amigos) através de um filme? Cidade Rabat de Susana Nobre faz isso mesmo. Olha para um microcosmos muito específico que é a vida de uma produtora de cinema (de autor) e mostra que vida e trabalho se misturam num só acontecimento, e que este é o nosso dia-a-dia. Só que o mais inteligente deste filme é que este microcosmos é projectado para uma universalidade: a precariedade e a dificuldade de corresponder às expectativas e a nossa capacidade de dar resposta a novos desafios são temas que atravessam hoje em dia (e infelizmente) todas as gerações. Estreado no último festival de Berlim, este filme demonstra um olhar muito preciso e meticuloso apontando para que Susana Nobre continue a ser uma das mais interessantes cineastas da sua geração. (Miguel Valverde)