Ontem, terça-feira (5), foi um dia importante para o Cineclube IndieLisboa, quando duas sessões que levaram realizadores convidados decorreram entre duas escolas em Lisboa.
A sessão da manhã, às 10 horas, aconteceu na Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho e o convidado foi o realizador Edgar Pêra, com exibição do seu filme Punk is not Daddy.
Punk is not Daddy
Punk is not Daddy é uma viagem pelos anos oitenta, testemunhada por um cineasta neófito. São cine-diários inéditos de Edgar Pêra: as Ruínas do Chiado, o quotidiano em Lisboa e Madrid, os Estados Gerais do Cinema Português, e sobretudo intervenções de bandas pop – a principal referência cultural dessa época. Punk is Not Daddy testemunha o crescimento e ocaso dos Heróis do Mar, os bastidores dos GNR num concerto da APU, os concertos abrasadores dos Xutos & Pontapés, a sonoridade céltica dos Sétima Legião, a pop despudorada dos Delfins, a militância dos Clandestinos, a rodagem dos videoclips dos Rádios Macau. E até a polémica da Final do Concurso de Música Moderna do Rock Rendez Vous, os ensaios dos Censurados no apocalíptico quarto de João Ribas ou o derradeiro (anti)concerto do RRV com os Zao Ten de Farinha Master. Punk is Not Daddy retrata, na primeira pessoa, a primeira década descomprometida com o fascismo, já com a revolução em eco. Finalmente, arte em liberdade.
Mais tarde, às 19 horas, outra sessão decorreu na Act Escola de Actores, onde a realizadora Leonor Teles estava presente como convidada para a exibição de dois dos seus filmes: Rhoma Acans e Balada de um Batráquio.
A família é o foco da primeira curta-metragem da jovem realizadora Leonor Teles. Rhoma Acans questiona o peso da tradição cigana a que outrora pertenceu.
Essa viagem de autodescoberta é feita através de um paralelismo entre a vivência de Leonor e a figura de Joaquina, jovem plenamente inserida na comunidade cigana. Quando rodou Rhoma Acans, Joaquina, 15 anos, já tinha passado por um casamento falhado e ambicionava sair da comunidade cigana para ser modelo.
Através de Joaquina, Leonor percebe o que mudou, o que se mantém e o que falta ainda mudar depois de sucessivas gerações de fortes personagens femininas. Tenta perceber o lugar onde está e imagina onde poderia estar se tivesse vivido numa comunidade cigana.
“Simultaneamente estranhos e familiares, distantes e próximos, inquietantes e sedutores, marginais e cosmopolitas, os ciganos apresentam-se envoltos numa aura de ambiguidade. Não se pode dizer que sejam invisíveis, pois dificilmente passam despercebidos.”
(Daniel Seabra Lopes)
Tal como os ciganos, os sapos de loiça não passam despercebidos a um olhar mais atento. Balada de um Batráquio surge assim num contexto ambíguo. Um filme que intervém no espaço real do quotidiano português como forma de fabular sobre um comportamento xenófobo.
Mais informações sobre o Cineclube IndieLisboa aqui.
Imagem: Balada de um Batráquio, de Leonor Teles.