Neste filme, o realizador traz a técnica japonesa kintsugi (usar traço dourado para recuperar peças fragmentadas, partidas) para o cinema, “colando” — com a ajuda parcimoniosa do som e de um passeio transumano pela paisagem Basca — alguns elementos díspares, mas muito pessoais: a câmara Super-8 do pai de Oskar Alegría, duas bobines de filme não utilizadas e duas pedaços de filmagens guardados, tudo intacto após 41 anos.
“Este filme é sobre um caminho. Mas sobretudo sobre uma forma de caminhar”. O realizador resgata a câmara Super-8 do pai e percorre o que lhe é familiar: os vestígios do lar e de um antigo trilho de pastores. Há 40 anos, a câmara de filmar ficou muda no momento em que a voz do avô de Oskar Alegria seria gravada para mais tarde recordar. A partir dessa premissa, Zinzindurrunkarratz leva-nos a ouvir pela primeira vez, tecendo os princípios do cinema que damos sempre por garantidos: o sincronismo de som e imagem. Neste levantamento de pequenos gestos da nostalgia, percebemos quão impossível é agarrar a linha do momento atual, já que o registo do passado e saberes ancestrais no terreno é tão palpável. (Bianca Dias)