Um ritual que envolve a preparação de lã, tingida de vermelho, para cobrir uma pedra. O simbolismo liga-se à protecção de um pastor que trata das suas ovelhas antes de ser tornado obsoleto.
O crescimento das grandes cidades vai engolindo os campos ao redor e força estilos de vida rurais em formatações subjugadas às necessidades urbanas. Só a teimosa dedicação de alguns à vida no campo confere o ânimo necessário para manter as suas profissões apesar da força de uma urbanidade centrípeta. Em “El Bon Auguri” um pastor de ovelhas continua a sua actividade mesmo quando ao lado se ouvem as grandes vias automóveis e o ruído ensurdecedor de uma cidade como Barcelona. Os chocalhos das ovelhas não são suficientes para abafar o barulho dos motores, e na tentativa de garantir a continuidade do seu sustento, o pastor conta com a ajuda de um colectivo ecofeminista que trabalha a lã proveniente do rebanho, intervindo artisticamente na Pedra Sacrificial da Serra de Collserola. A extraordinária beleza deste filme, que acompanha os dois processos, a actividade do pastor e a do colectivo artístico, está na subtileza com que a realizadora situa esta história “numa espécie de temporalidade indefinida” para mostrar “os vestígios do passado e as ameaças do futuro.” (Margarida Moz)