Os novos cavalos são as motas e os novos rodeos são as corridas e acrobacias de motocross não propriamente legais. Neste filme, Julie Ledru é Julia, uma rapariga de carapaça dura e sem medo, marcada pela sua paixão por motas, a sua velocidade e a sensação de liberdade que proporcionam. Mas o mundo extremamente masculino dos subúrbios de Paris que Julia quer habitar exige provas cada vez mais arriscadas e o seu lugar nesta comunidade não é fácil de assegurar.
Rodeo é a primeira longa-metragem de Lola Quivoron num universo que lhe é totalmente familiar, uma continuação da sua curta-metragem Au Loin Baltimore (IndieLisboa 2017), influenciada entre outras por De bruit et de fureur de Jean-Claude Brisseau. Premiado no último Festival de Cinema de Cannes, sendo o favorito da seleção Un certain regard, Rodeo é todo um vocabulário, uma poesia, mas acima de tudo é uma bofetada. Um estalo de um instinto cinematográfico, de um momento de bobinas, que cheira a gasolina o tempo todo e aguça os sentidos. Cheira a fogo, é a câmera incandescente que queima com o betume, filmada pra valer, como nunca antes, em CinemaScope, estilo western urbano. Loucura inflamada do cinema, loucura incendiada de emoções. Verdadeiro viés radical do ponto de vista estritamente formal, é também, no fundo, uma imensa audácia nunca provocativa ou complacente para torná-los belos os anti-heróis que fazem parte desta banda. Eles são crus, fogo em seus olhos, óleo em suas veias. (Mickaël Gaspar)