Entre música tecno a ribombar, visitas discretas à casa de banho, drogas mais ou menos fortes e corpos como carrinhos de choque, a discoteca talvez seja o purgatório que entretém e distrai da repetição dos dias — com uma banda sonora que reflete o júbilo e a imersão de uma saída à noite. Neste cenário, entre céu e inferno, Félicie e Saïd conhecem-se e vão juntos para casa. A crescente luz da madrugada vai iluminando as suas, bem diferentes, visões de vida.
“Quem dança seus males espanta” poderia ser a chave de entrada para este filme que nos lança imediatamente no meio de uma catártica pista de discoteca onde encontramos corpos suados em transe, ao som do tecno, à procura de expiar o cada vez mais pesado fardo do dia-a-dia, numa utopia efémera colectiva, livre de hierarquias sociais.
A imersão é tal que nós espectadores queremos juntar-nos à festa e é difícil permanecer quietos na cadeira. Tunz, tunz, tunz!
Do extase dançante passamos discretamente à calmaria da madrugada graças ao encontro de Félicie e Saïd que partem da discoteca juntos para o “after” na casa dela. Emerge então, de forma mais evidente, um retrato geracional de grande autenticidade que nos remete para o contexto contemporâneo. O descontentamento faz-se mais explícito na colisão da noite com o dia, do alienamento com a conscientização, do pessoal com o político… do presente da perspectiva de uma jovem advogada e um motorista de uber engajado. Um filme efervescente ilusoriamente festivo. (Susana Santos Rodrigues)