Maher é o protagonista nesta história que se passa nas margens do Nilo no Sudão que lida com a imaginação deste trabalhador no fabrico de tijolos, que vive exilado do Darfur. Os dias de trabalho esgotante são pontuados pelo exercício de uma actividade pós-laboral peculiar: a construção de uma estrutura feita de lama e outros materiais. Tudo decorre na desolação da normalidade até ao dia em que a sua criação desaparece.
Numa barragem no Rio Nilo, a lama é transportada por Maher e outros trabalhadores, a água corre, um cão vagueia perdido. Em redor, o deserto e a ferida por sarar. O imaginário do Sudão mascara-se nas entrelinhas desta realidade decadente e uma figura feita de lama ganha vida. O cenário político é a Revolução Sudanesa para a vida do ator não-profissional Maher El Khair, que faz tijolos de lama na vida real e na ficção. Constrói a sua própria verdade. Ali Cherri sentiu a necessidade de representar a violência invisível e silenciosa: os trabalhadores que ouvem a rádio, sem nunca comentar. A vida continua. (Bianca Dias)