A animação deste filme resulta numa metáfora tocante sobre trauma, físico e emocional, e reconciliação. Eric é um artista dedicado à animação que literalmente não tem boca, pelo que a sua comunicação é feita através de um quadro à volta do pescoço. Demasiado introvertido para confessar sentimentos ao seu colega de trabalho, vive de forma isolada, apesar das tentativas da mãe para o aproximar do mundo lá fora. Até ao dia em que ela lhe pede para visitar o tio Rogelio.
Dirigido pelo filipino Carl Joseph Papa, The Missing é um longa-metragem cuja animação é feita por rotoscopia. Se a rotoscopia permite preservar a expressividade, Papa rapidamente abre espaço para o surreal. A boca de Eric, o personagem principal, é apagada. Numa pausa (ou num sonho?), o filme migra para a ficção científica. O cineasta estabelece um diálogo interessante entre a aparência ultra-realista e a tensão fantástica.
A animação em The Missing é livre, inventiva e particularmente expressiva: partes do rosto apagadas, grelhas visíveis, marcas do lápis… cada elemento parece ser escolhido com uma relação direta à expressão das emoções e do mundo interior. O gênero também é um meio de expressão, onde a fantasia fala de traumas queer, como no Mysterious Skin do Gregg Araki. (Michaël Gaspar)