Dois Verões diferentes a serem vividos em paralelo na mesma cidade rural, uma das últimas em Espanha que se dedica à secagem do tabaco. Veja de Granada é, para Nieves, que lá vive, um sítio que a sufoca e de onde quer fugir. Mas, para já, vai-se entretendo entre festas, amigas e com o namorado. Já Vera, uma menina da cidade a passar as férias com os avós, descobre uma criatura fantástica saída de um filme do Miyazaki no meio dos campos. E tudo muda.
Nos últimos anos tem surgido um conjunto de filmes europeus (realizados por mulheres) que parece descrever uma certa visão nostálgica da ruralidade a partir do desaparecimentos dos ofícios agrícolas familiares. De destacar, Le meraviglie (2014, Alice Rohrwacher) e produção do mel, Alcarràs (2022, Carla Simón) e a produção de pêssegos, e agora Secaderos e o fim da produção e secagem da folha de tabaco em Espanha. Estes filmes operam sempre segundo uma oposição entre modernidade e tradição, que se traduz num choque geracional, muitas vezes associado a um conflito entre a cidade e o campo. O que Rocío Mesa acrescenta, neste seu filme, são os elementos fantásticos, em particular uma criatura mágica trazida diretamente do cinema infanto-juvenil dos anos 1980. O que daí resulta é que, ao contrário dos outros títulos, este retrato é feito a partir de uma perspetiva rememorativa, o que suaviza a lógica opositiva e lhe acrescenta uma ternura profundamente tocante. (Ricardo Vieira Lisboa)