Três gerações de homens portugueses — Tiago, Raul e Manuel — que vivem entre sonhos, glórias perdidas e crises existenciais veem as suas vidas interligadas com a de Karen, uma mulher brasileira que passeia por Lisboa, enquanto vai mandando cartas que contam as suas deambulções. Um filme em oposição a uma ideia de uma cidade gentrificada.
Três homens portugueses de três gerações (o pai, o filho e o… neto, que nada tem de espírito santo) e uma turista brasileira passeiam por Lisboa. Esta é a premissa da estreia de Telmo Churro nas longas, que dá continuidade (alargando a família e o espaço geográfico) à curta, Rei Inútil (2014), não só no retrato da cidade mas também no modo como as vivências quotidianas se entrecruzam com o passado histórico como um eco mitológico ou uma assombração do destino. Churro regressa aos “seus” locais lisboetas (àqueles que ainda se podem visitar de dia) e aos “seus” mitos fundadores (revolucionários suicidas como Antero de Quental e Almirante Cândido Reis), assumindo a lógica da visita como dispositivo narrativo, na senda do cinema didático-pessimistas de Manoel de Oliveira (O Dia do Desespero e Non). No entanto, o tom satírico-doce está bem mais próximo de César Monteiro, estando a “Relação das Fúrias e Desgostos” ao nível do monólogo do percevejo. No cinema português, o desamparo nunca foi tão romântico. (Ricardo Vieira Lisboa)