Duas crianças lituanas foram adotadas por um casal francês, Jaqueline e Leon, mas surge a necessidade de colmatar as dificuldades de comunicação e facilitar a adaptação. Gabriele, uma estudante também da Lituânia, vem viver com esta família para ajudar. Entre as duas figuras maternais, começa uma disputa pelo impacto sobre as crianças, com Jacqueline como a figura de autoridade, mas Gabriele como a presença amiga que as vai conquistando.
Se não podes ter filhos, talvez adoptes. Nada de mais errado mas aquilo que constitui a premissa deste filme. Um casal francês vai adoptar duas crianças vindas da Lituânia. A ausência de conhecimento da língua e a necessidade de adaptação à nova família leva à contratação de uma ama lituana. Só que este casal cheio de idiossincrasias e mau-estar aparente faz tudo mal e a ama também. O filme segue de forma muito acutilante o dia-a-dia da recepção das crianças e este processo sempre difícil, complicado e demorado de criação de um elo familiar entre todos. E claro, como a família já deslaçou e as inseguranças contaminam o ambiente sabemos que o perigo espreita por todos os lados. Não há forma de acabar bem esta história. É por isso angustiante ver um filme com e sem saída ao mesmo tempo. Que procura o melhor das personagens, mas em que as mesmas dão sempre o seu pior. E a sua grande virtude está mesmo e porventura nas interpretações (dos actores adultos às crianças) que compõem um quadro de dificuldade constante e que a câmara pontua nos gestos, nos seus movimentos e no off do quadro. Não é à toa que temos sempre uma cobra a serpentear por ali, como um perigo iminente. Só que esse perigo talvez não venha da natureza selvagem. (Miguel Valverde)