“Mannvirki” significa, em islandês, estrutura, edifício. Mas também a junção das palavras para “pessoa” e “fortaleza”. Neste filme, viajamos por uma estrutura abandonada, no norte da Islândia, que pela sua aproximação à costa está a ser erodida pelo tempo, pelo vento e pelo mar. A falta de atividade é um convite à entrada de fauna, flora e humanos curiosos e com planos para o futuro.
No meio da paisagem inóspita da Islândia sobra um edifício abandonado. Um mastodonte de betão armado, que terá servido como base exploratória e de observação da tundra. Hoje, a monumentalidade monolítica daquela construção começa a ser invadida pelos elementos naturais: animais, vegetação, infiltrações. A estes, juntam-se algumas figuras humanas que, em silêncio e forma minuciosa, investigam os detritos, movimentam os objetos perdidos, cavam, raspam, mergulham. O silêncio é rasgado por certas investidas mais violentas, o pitoresco da paisagem é perturbado pelos gestos e o próprio betão cede sob as forças exteriores. E eis que, subitamente, aquele local desamparado se transforma num palco performativo, onde as figuras humanas e a não-humanas o ocupam e ressignificam. Todos trabalham – como se de um bailado se tratasse – para a decomposição e absorção daquela estrutura. É a dança da degradação. (Ricardo Vieira Lisboa)