Neste falso documentário cheio de humor, baseado no grande número de “trabalhadores fantasma” na função pública grega, encontramos Haroula, que não vê um dos filhos, Panos, há dois dias. O desaparecimento leva a um surgimento, o de uma equipa de filmagens que vem em busca Panos… porque este foi acusado de fraude. O que se segue é uma metafórica caça do gambuzino, em que Haroula pega no filho mais velho, Lefteris, e na sua cadeira de rodas e parte em busca da verdade.
Black Stone começa com a seguinte mensagem: “existem cerca de 602 301 funcionários públicos na Grécia, dos quais 48 646 estão ‘desaparecidos’, após terem sido recrutados para cargos desconhecidos dentro da administração pública”. Posto isto ficamos a observar uma série de secretárias vazias onde se acumulam papéis e sobre a qual se encontram telefones que tocam no vazio. Em jeito de mockumentary de denúncia, Spiros Jacovides vai “investigar” este esquema de corrupção, sinalizando um “funcionário fantasma” e procurando – até às últimas consequências – o seu paradeiro. Só que, rapidamente, as pretensões acusatórias caem em saco roto. E o filme transforma-se num retrato hilariante das transformações da sociedade grega a partir da reconfiguração dessa mui tradicional instituição, a família. Pedra por pedra, tudo é revirado: machismo, racismo e capacitismo. É a refundação de um país vista a partir de uma transição geracional. (Ricardo Vieira Lisboa)