Uma viagem feita através de um trabalho de montagem exímio, de uma realizadora com mão de mestre. Aqui, a jornada leva-nos desde o minério que é usado nas partes componentes da nossa tecnologia ao que a tecnologia em si depois nos fornece, em todo o seu esplendor de luz.
Wang Yuyan já havia explorado as possibilidades rítmicas do supercut com as mãos terroríficas que compunham The Devil In The Details. No filme seguinte, One Thousand and One Attempts to Be an Ocean, elevava a arte do raccord a um mantra de ondulações que atravessava a histórias das imagens em movimento (do filme científico ao vídeo viral). Agora, em Look On the Bright Side, a realizadora sobe a parada ao encarar – de frente – a própria matéria do cinema: a luz. Mas sendo da natureza do seu trabalho um questionamento crítico sobre a tecnologia, a luz que interessa à realizadora é aquela que o ser humano produz. Do fogo ao LED, Yuyan conduz-nos numa experiência irónico-transcendental que atravessa o ciclo mineral da eletrónica (da extração do ouro dos circuitos de processamento, passando pela produção desses sistemas – e pelas condições de trabalho dos operários –, culminando nos dispositivos que permitem a captura, reprodução e circulação digital da luz – isto é, que permitem a própria existência do filme, feito a partir de imagens recolhidas da internet. (Ricardo Vieira Lisboa)