Cobweb é dramático, hilariante, assustador e campy. É a história de um realizador que sente a necessidade de mudar o final do seu filme. Consumido por críticas de falta de originalidade, decide que este último filme tem de ser a sua obra-prima. A equipa é obrigada a voltar, incluindo os actores, e a tentativa de salvar o filme é feita com constrangimentos de tempo, voltas aos responsáveis pela censura e toda a espécie de peripécias.
Jee-woon Kim traça, com movimentos fluídos mas magistrais, um filme especialmente metatextual, sendo também um tributo aos filmes coreanos dos anos 1970, que constrói um filme-dentro-de-um-filme, usando as transições de preto e branco para a cor como demarcações estéticas. Song Kang-ho (actor de Parasite, e muitos outros filmes) é o realizador Kim, que precisa de dois dias extra para refazer o seu filme. Fora os contratempos que seriam mais normais, Kim tem também de lidar com a interferência das autoridades de censura — fazendo um parelelo com a realidade da Coreia do Sul, onde a censura levada a cabo pelo regime militar (de Park Chung Hee e de Chun Doo Hwan), entre 1973 e 1992, tem fortes repercussões no cinema da época. (Ana Cabral Martins)