Steppenwolf, do extremamente prolífico e proficiente Yerzhanov, tem várias fontes de inspiração: John Ford, histórias de samurais e o romance homónimo de Hermann Hesse, bem como folclore cazaque. O filme segue duas personagens que se aliam relutantemente, com um objectivo: encontrar um miúdo que foi raptado. Os cenários são desolados mas belos, a violência brutal e o filme virtuosamente construído, com personagens tão intensas quanto marcantes.
Eu não posso falar por vocês, apenas por mim, mas espero que se relacionem com o que vou dizer. Enquanto pessoa que vê centenas de filmes por ano, se nos mantivermos a ver os vários realizadores já idolatrados pelo mundo há décadas como por exemplo, Ford ou Hawks, o dito cânone, ver um filme bom é algo regular e para quem vê muitos filmes, algo diário. Por vezes, em raros momentos, vemos um filme que se calhar esperamos que seja bom mas acaba por ser uma experiência mais próxima do divino. Se reviraram os olhos com a palavra divino, eu compreendo, mas às vezes vemos um filme que nos diz tanto, que sabemos que não iremos esquecer nunca e divino é a honestamente apropriado. Algo que te retira um pouco para fora do teu corpo, que te faz sentir que afinal todas aquelas horas a fazer listas no Letterboxd valeram a pena e que ninguém pode gostar tanto de cinema como tu. Steppenwolf de Adilkhan Yerzhanov foi esse filme para mim, um filme tremendo, notoriamente inspirado no cânone com um enorme rasgo de beleza e brutalidade. Steppenwolf é um filme raro e esses filmes vêm-se no cinema, no escuro, mas, acima de tudo, de coração aberto. (Rui Mendes)
