“Far-Right Ladies Night”, “Neo-Nazi Karens Are Your Worst Nightmare”: alguns dos títulos de críticas a este filme perturbadoramente imersivo em plano-sequência sobre o horror que se esconde no dia-a-dia. Soft and Quiet prende a mão do espectador com firmeza e faz-nos ver um lado negro da humanidade. Entre a advertência e o terror, um filme sobre as potenciais e terríveis consequências de uma mentalidade supremacista branca.
Beth de Araújo já tinha feito curtas-metragens onde explorou temas fortes, incluindo toxicodependência, na curta Chevy Chase, com Stefanie Estes (com quem volta a colaborar aqui, agora na pele da protagonista Emily). Mas Soft & Quiet é um filme que pega em monstros bem reais e leva às últimas consequências uma ideologia em galopante e preocupante ascensão. A realizadora, filha de mãe Chinesa-Americana e pai brasileiro, vê a história como tendo contornos pessoais, mas também societais, baseando-se em acontecimentos noticiados e uma investigação pelas entranhas do movimento “tradlife”, com associações misóginas e xenófobas. A realizadora não se vê enquanto estando a trabalhar no género do terror, mas é difícil ver o plano da tarte caseira com uma swastika desenhada e não sentir o maior calafrio possível. Isto porque, apesar do título, o murro no estômago que se sente nada tem de suave ou sossegado. (Ana Cabral Martins)