Cronologicamente, Pearl posiciona-se como prequela de X (2022) e dá-nos a conhecer a origem da vilania presente nesse primeiro filme. Ti West brilha, enquanto realizador, montador, argumentista e produtor, num género em que a criatividade ultrapassa sempre os parcos meios de produção. Esteticamente bastante diferente de X, Pearl traz-nos uma Mia Goth magistral e um piscar de olhos, tanto cómico quanto violento, a O Feiticeiro de Oz ou Mary Poppins.
Mia Goth. Este filme gira em torno da tour de force que é a prestação de Mia Goth —o monólogo final merece ir para uma lista de best of — que tem recebido recente aclamação pela sua bem sucedida transformação em Scream Queen (com Pearl, X, Infinity Pool são três dos exemplos mais recentes). Este filme resulta de uma colaboração estreita entre actriz e realizador, Ti West. Com o impacto da pandemia na produção de cinema, West decide rodar dois filmes interligados e criar um novo universo no mundo dos slashers, cada qual com as suas referências estéticas e cinematográficas. Se X presta homenagem a filmes como The Texas Chainsaw Massacre, Psycho e Boogie Nights, este filme apresenta-se como uma prequela bem mais Technicolor da idade dourada do cinema americano, que nos leva directamente a 1918, em plena gripe espanhola e Primeira Guerra Mundial. Mas, para Pearl, a única preocupação é tornar-se uma estrela no firmamento de Hollywood. A sua ambição é a gasolina desta aventura delirante. (Ana Cabral Martins)