Talvez a comédia mais desconfortável que se pode ver, a roçar o limite do que é uma comédia, mas com uma perfeita destilação de humor escandinavo, numa sátira venenosa (em mais do que uma maneira) a Signe, uma personagem com uma necessidade competitiva (e patológica) de atrair atenção e simpatia. E à medida que o namorado, Thomas, vai ganhando fama como artista, mais os seus planos se tornam delirantes.
Até onde é que alguém pode ir para ser objecto de atenção? Aparentemente muito longe. Quando Thomas (Eirik Sæther) começa a ser uma pessoa falada no mundo da arte, a sua namorada Signe (Kujath Thorp) estuda as suas opções para não ficar na sua sombra. O realizador norueguês Kristoffer Borgli, já presente duas vezes no festival (Former Cult Member Hears Music for the First Time, 2020; e Whateverest, 2013) trabalha o humor negro, mas também a comédia física de Thorp para esta perturbadora alegoria acerca das patologias da competitividade neo-liberal, em particular a cultura narcisista da fama artificial e efémera das redes sociais. Sick of Myself é uma comédia que percebe a subtil ligação entre a nossa necessidade de entretenimento e a possível toxicidade das traves mestras que o sustentam. (Carlos Natálio)