A procura de uma nova casa para habitar desperta memórias de infância que se misturam com o deserto da paisagem.
Em 2020, Isabelle Tollenaere apresentou no IndieLisboa a longa Victoria, que acabaria premiada. Esse projeto, sobre a cidade fantasma de California, no deserto de Mojave, resultou de um longo processo de rodagem, no qual Tollenaere foi a diretora de fotografia. A partir do enorme manancial de imagens e sons recolhidos, a realizadora desenvolve um filme onde as questões da memória se revestem de um triplo sentido, temático, simbólico e formal. Num primeiro momento, acompanhamos duas mulheres que visitam uma casa vazia. É uma experiência prospetiva, “este será o meu quarto”. Subitamente a câmara solta-se dos corpos delas e fixa-se numa janela. A conversa das raparigas torna-se rememorativa, lembrando a experiência de uma outra casa, num outro Estado, Los Angeles, aquele que dá nome àquele lugar desolado. A memória é fresca, a paisagem é árida. E, eis senão quando, o deserto invade a memória, soterrando-a. O passado e as memórias dele são, por definição, irrecuperáveis. (Ricardo Vieira Lisboa)