23 MAIO — 02 JUNHO 2024

23 MAIO — 02 JUNHO 2024

MOSTRA DE CINEMA IPO LISBOA 100 ANOS

No âmbito das comemorações dos 100 anos do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil (IPO Lisboa), foi lançado um convite para colaborar na organização de uma Mostra de Cinema com um triplo objectivo: estar tematicamente relacionada com o trabalho da instituição, constituir um momento de celebração da efeméride e promover o encontro entre espectadores de cinema, IPO e toda a comunidade envolvida com a instituição. 

A Mostra é uma co-organização entre o IPO Lisboa e o IndieLisboa.

5 a 7 de janeiro de 2024
Cinema São Jorge

Informações de bilheteira

BILHETES

Normal: 2,5€
Desconto: 2€

Gratuito para profissionais do IPO Lisboa

Desconto aplicável a jovens até aos 30 anos, maiores de 65 anos e pessoas em situação de desemprego (mediante comprovativo)

Bilhetes vendidos através dos canais de bilheteira do Cinema São Jorge:

Avenida da Liberdade, nº.175
1250-141 Lisboa

+351 21 310 34 00

cinemasaojorge.byblueticket.pt/


APRESENTAÇÃO


O IndieLisboa e o IPO Lisboa – O Cinema e a Oncologia
Miguel Valverde, Direção do IndieLisboa Associação Cultural

Quando trabalhamos diariamente em cinema é como se o mundo nos entrasse em casa todos os dias. Os seus dilemas, os dogmas, as incertezas e, porque não, as doenças. Isso faz com que os cineastas e os programadores sejam os arautos de um tempo presente e os espectadores uma espécie de pensadores do nosso tempo porque serão eles a reflectir todas estas ansiedades.

Para o IndieLisboa, habituado a trabalhar com o cinema contemporâneo mais recente e com os seus autores mais valiosos, é um enorme privilégio sair da bolha desse estado de urgência para nos focarmos em questões concretas. O desafio que nos foi lançado pelo Instituto Português de Oncologia – IPO Lisboa – que comemora este mês o seu centenário, é daquelas dádivas de programação que qualquer entidade programadora gostaria de ter. Ao mesmo tempo traz desafios e contradições insanáveis.

Como falar da doença oncológica sem ser sensacionalista, derrotista, paternalista ou falsamente esperançoso? Esta foi a principal dificuldade de organizar um programa que tinha de ter o tom certo para se falar de uma doença que ainda é tabu nos dias de correm – o cancro e as suas diferentes variantes. Foi um processo complicado para a equipa de programação do IndieLisboa e para a equipa do IPO Lisboa, que fizeram um trabalho conjunto de análise rigorosa dos filmes e do que se pretendia dizer. Foi um olhar para o cinema do ponto de vista da entidade que trata a doença oncológica há mais tempo em Portugal e outro olhar para a doença do lado de programadores de cinema pouco habituados a lidar com estas preocupações tão concretas.

Mas dão-se encontros felizes quando queremos fazer um trabalho sério. Uma sintonia completa no discurso, nos filmes escolhidos e na forma de os apresentar. Um conjunto de seis obras de diferentes épocas que jogam entre o humor desconcertante de Moretti em Querido Diário e o humor frenético de Valérie Donzelli em La guerre est declarée, ou a melodia intemporal de Francis Lai em Love Story de Arthur Hiller, passando pela lucidez de The Farewell de Lulu Wang. E pelos olhares incisivos de duas mulheres poderosas, Catarina Vasconcelos (e o seu emocionante A Metamorfose dos Pássaros) e Notre Corps, um documentário de Claire Simon sobre a doença. A propósito deste último filme alargámos o debate à sociedade civil para falarmos da doença e das experiências pessoais de quem as viveu. Moderado por Joana Cruz (radialista), vamos juntar na conversa o poeta Rui Miguel Ribeiro, o ex-secretário de estado da cultura e fundador das Produções Fictícias Nuno Artur Silva e Paula Chaves, voluntária na Liga Portuguesa contra o Cancro.

Com co-organização do IPO Lisboa e do IndieLisboa e co-produção da EGEAC, a Mostra de Cinema IPO LISBOA 100 Anos decorrerá no Cinema São Jorge, de 5 a 7 de Janeiro de 2024. E da parte do IndieLisboa não poderíamos estar mais orgulhosos desta parceria e absolutamente comprometidos com esta Mostra.

Mostra de Cinema 100 Anos do IPO Lisboa: Oncologia em forma de Arte
dra. Eva Falcão, Presidência do Conselho de Administração do IPO Lisboa

Pode parecer uma combinação pouco habitual. Mas o cinema tem a capacidade de nos transportar para cenários e contextos que dão outra vida à vida. E a Oncologia, tema central desta Mostra de Cinema do IPO Lisboa, a marcar o centenário do Instituto – 29 de dezembro de 2023 –, é a base que une este programa de três dias de filmes que celebra, precisamente, a vida. A dos profissionais de saúde, a das pessoas que vivem com doença oncológica, a dos cuidadores e familiares e amigos e de todos os que, algum dia, contactaram com a doença.

Esta é uma mostra de cinema onde se exploram histórias emocionantes e impactantes sobre coragem, resiliência e esperança. Num olhar original, disruptivo e com a assinatura de cineastas de renome, em seis sessões que revelam as experiências humanas por detrás do diagnóstico do cancro – e não só –, mostrando os desafios enfrentados, mas também os triunfos, a força e a solidariedade que emergem de cada caso. 

Para complementar a exibição cinematográfica, convidámos ainda profissionais de saúde do IPO Lisboa a apresentar cada filme, tendo ainda um debate num deles – uma forma de enriquecer a experiência dos espetadores com a oportunidade de discutir os temas abordados, dando voz à sociedade civil. 

A Mostra de Cinema 100 Anos do IPO Lisboa vai para além do grande ecrã. Junte-se a nós nesta experiência que une arte, conhecimento, diálogo e partilha.


PROGRAMA


Sessão 1 | Abertura | Sala Manoel de Oliveira | 5 jan, sexta | 18h00
A LUTA CONTRA O CANCRO EM PORTUGAL
LA GUERRE EST DECLARÉE

Sessão apresentada por dra. Ana Lacerda,
diretora do Serviço de Pediatria do IPO Lisboa

A LUTA CONTRA O CANCRO EM PORTUGAL

ANTÓNIO LOPES RIBEIRO
Portugal, Documentário, 1952, 16’

António Lopes Ribeiro, cineasta consagrado que conhecemos de Amor de Perdição ou de O Pai Tirano, entre muitos outros títulos, demonstra neste filme de 16 minutos, que era um realizador invulgar. A Luta Contra o Cancro em Portugal é um poderoso documentário sobre a criação, a construção e a implementação do Instituto Português de Oncologia em Lisboa. Imagens do edifício, das pessoas e do ambiente ajudam a criar uma sensação de segurança e confiança na instituição, ao mesmo tempo que um olhar pelos corredores nos faz deambular pelo espaço. O olhar rigoroso da câmara e a luz, cheia de contraste, convocam o grande cinema e tornam este filme uma das grandes (re)descobertas cinematográficas de 2023.

Miguel Valverde, IndieLisboa

FICHA TÉCNICA

A Luta Contra o Cancro em Portugal - Cópia digitalizada pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência. Medida integrada no programa Next Generation EU.

DIÁLOGO
Português

NARRAÇÃO
Raúl Feio

FOTOGRAFIA
Octávio Bobone
Carlos Filipe Ribeiro

SOM
Henrique Dominguez

LABORATÓRIOS
Tobis Portuguesa

LA GUERRE EST DECLARÉE

VALÉRIE DONZELLI
França, Ficção, 2011, 100’

Nesta história as personagens principais são Romeu e Julieta e desde logo se adivinha a tragédia de um romance. Mas este jovem casal não está disposto a deixar-se derrotar e declara guerra à tragédia de descobrir que filho de apenas 18 meses tem um tumor cerebral.

O casal é representado pela realizadora Valérie Donzelli e o seu ex companheiro Jérémie Elkaïm e pai do filho que na vida real lidou com esta doença. Juntos escreveram o argumento e é na distância temporal da realidade transposta para o filme, na cumplicidade dos dois durante os anos de hospital, tratamento e incerteza, que reside a energia avassaladora desta luta, sempre ao som do punk rock para que ninguém esmoreça. O amor e o humor são as armas para combater os momentos mais sombrios. É esse o caminho para fugir à tragédia.

Sem esconder nada sobre a natureza da doença, o ponto de vista é o dos pais (com a permanente e generosa proximidade da família), e é a cumplicidade entre os dois que define o desenrolar da narrativa, composta por artifícios formais que a tornam quase irreal ao mesmo tempo que a precisão dos detalhes sugere um realismo documental. 

Margarida Moz, IndieLisboa

O que significa estar em guerra? Este filme mostra-nos como se transforma a vida quando é diagnosticado cancro a uma criança - está lá tudo: primeiro a incredulidade e o choque, depois o medo, o pânico, a incerteza…os vários embates (“nunca iremos sobreviver a isto”), o proteger a família, o desgaste da relação do casal, as inúmeras perdas (afetivas, económicas, etc.), a montanha russa dos efeitos e resultados dos tratamentos, a busca incessante pelo melhor…mas também a importância da comunicação verbal e não verbal, da humanização dos cuidados, do estabelecimento de uma relação de confiança entre a família e a equipa de saúde, que inclua o respeito pela espiritualidade.

Ao ver o filme dei por mim a pensar como todos estes aspetos estavam tão bem retratados, tão “por dentro” …por isso não me surpreendeu no final perceber que os atores principais usaram aqui a sua história de vida. Sem dúvida um filme a ser visto e refletido por quem deseja compreender melhor o dia a dia do cancro pediátrico.

dra. Ana Lacerda, IPO Lisboa

SINOPSE E FICHA TÉCNICA

Um casal, Romeu e Julieta.
Uma criança, Adam.
A sua doença, a sua luta.
E, acima de tudo, a sua grande história de amor.

DIÁLOGO
Francês

LEGENDAS
Português

ELENCO
Valérie Donzelli
Jérémie Elkaïm

ARGUMENTO
Valérie Donzelli
Jérémie Elkaïm

FOTOGRAFIA
Sébastien Buchmann

SOM
André Rigaut

MONTAGEM
Pauline Gaillard

PRODUÇÃO
Edouard Weil

Sessão 2 | Sala 3 | 5 jan, sexta | 21h00
LOVE STORY

Sessão apresentada por prof. dra. Maria Gomes da Silva,
diretora do Serviço de Hematologia do IPO Lisboa

SINOPSE E FICHA TÉCNICA

Quando Oliver Barrett IV (Ryan O'Neal), um rico estudante de Direito da Universidade de Harvard, conhece Jenny Cavilleri (Ali MacGraw), uma rapariga da classe média que estuda música no Radcliffe College, é amor à primeira vista. Apesar dos protestos do pai de Oliver (Ray Milland), o jovem casal casa-se. Oliver arranja um emprego numa firma de advogados em Nova Iorque, mas a sua vida feliz desmorona-se quando se descobre que Jenny tem uma doença terminal. Juntos, eles tentam lidar com a situação da melhor maneira possível.

DIÁLOGO
Inglês

LEGENDAS
Português

ELENCO
Ray Milland
Ali Mcgraw
Ryan O'Neal
John Marley

ARGUMENTO
Erich Segal

FOTOGRAFIA
Richard Kratina

MÚSICA
Francis Lai

MONTAGEM
Robert C. Jones

PRODUÇÃO
Howard G. Minsky

LOVE STORY

ARTHUR HILLER
Internacional, Ficção, 1970, 100’

Love Story parece, à primeira vista, uma história de amor convencional. Oliver, futuro advogado e herdeiro de uma fortuna, apaixona-se por Jenny, uma jovem estudante de música de uma família humilde. Os dois vivem uma paixão rápida e intensa e decidem casar, para que possam viver plenamente aquele amor inesperado, apesar de todos os entraves culturais e do inevitável choque de classes. No entanto, a estabilidade da vida em comunhão é abalada por uma notícia dramática: a protagonista é diagnosticada com uma leucemia em estado terminal. Tudo isto embalado num tema de Francis Lai que se tornou popular, criando uma identificação simbólica em que o filme não vive sem a música e a música não pode ser mencionada sem referência ao filme.

Em 1970, o realizador Arthur Hiller decidiu expor o público à frustração, à tristeza e à resignação de quem sofre de doença oncológica — mas também à angústia de quem não sofre os efeitos na primeira pessoa. Para nos lembrarmos de que não há histórias de amor previsíveis.

Jéssica Pestana, IndieLisboa

O filme Love Story, produzido há 5 décadas, confronta-nos com uma temática que continua atual. No contexto da dinâmica sociocultural da Nova Inglaterra no início dos anos 70, marcada pela vida universitária em Boston, dois jovens, apaixonados, vibrantes, cheios de projetos, que lidam com obstáculos impostos por diferentes origens sociais, são subitamente confrontados com a doença e a morte.  Nada os prepara para um desfecho dramático numa vida plena de promessas. Ainda que nunca claramente explicitado durante o filme, é possível inferir que à protagonista é diagnosticado um tumor hematológico, que pela rápida evolução e ausência de perspetivas terapêuticas podemos concluir tratar-se provavelmente de uma leucemia aguda.

Ainda que os avanços da hematologia oncológica nos ofereçam em 2024 uma perspetiva diferente desta doença, o diagnóstico de uma situação potencialmente fatal numa fase da vida em que a ideia de morte é dificilmente concebível é hoje, como à época, de enorme violência e essencialmente modificador da vida. Felizmente muito mudou em 50 anos e para muitos dos doentes a quem é feito atualmente tal diagnóstico as perspetivas terapêuticas são completamente diferentes. Mais do que tudo não há, como em Love Story, leucemias para as quais não se proponha tratamento e que constituam, sem julgamento prévio, sentenças de morte. 

prof. dra. Maria Gomes da Silva, IPO Lisboa

Sessão 3 | Sala Manoel de Oliveira | 6 jan, sábado | 15h00
NOTRE CORPS

Sessão apresentada por Ana Sofia Simões,
enfermeira coordenadora da Unidade de Apoio Domiciliário do IPO Lisboa

Sessão seguida de debate moderado por Joana Cruz, radialista, com prof. dra. Paula Chaves, voluntária na Liga Portuguesa Contra o Cancro, Nuno Artur Silva, ex-secretário de estado da Cultura e fundador das Produções Fictícias e Rui Miguel Ribeiro, poeta e editor das Edições Saguão.

SINOPSE E FICHA TÉCNICA

Num hospital público parisiense, Claire Simon questiona o que significa viver no corpo das mulheres, filmando a sua diversidade, singularidade e a sua beleza em todas as fases da vida.

Histórias únicas de desejos, medos e lutas, incluindo a da própria cineasta.

DIÁLOGO
Inglês
Francês
Espanhol

LEGENDAS
Português

FOTOGRAFIA
Claire Simon

SOM
Flavia Cordey

MONTAGEM
Luc Forveille

PRODUÇÃO
Kristina Larsen

UMA PRODUÇÃO MADISONFILMS

NOTRE CORPS

CLAIRE SIMON
França, Documentário, 2023, 168’

Os nossos corpos falam e neste hospital público de Paris há quem fale com eles, connosco, sobre o seu potencial, os seus limites, a vida e o fim. O que de mais extraordinário este documentário mostra é que o tempo das conversas é demorado, porque numa clínica ginecológica todos os procedimentos se ligam profundamente ao que é ser mulher, trans e cis, em qualquer idade; ao que é ser mãe ou não querer sê-lo, ou nem sequer o poder ser. Neste hospital os nossos corpos reproduzem-se, alteram-se e revelam-se em histórias, identidades, angústias, incertezas. A biomedicina não é suficiente para resolver todas as questões, mas as pessoas que ali trabalham, as que ali vão, e as que filmam, tornam aquele espaço mais acolhedor e íntimo, menos assustador.

Neste hospital, em que se anunciam novas vidas e se antecipam fins, cada palavra dita, desenhada, traduzida, por mais duro que seja o seu sentido é proferida com um respeito que garante que se tudo o resto falhar, a dignidade da pessoa será preservada. A enorme beleza deste filme é a sua humanidade. E a generosa proximidade da câmara acrescenta uma camada a esta partilha, que no final se revela ainda mais próxima quando também o corpo da realizadora se torna parte do filme.

Margarida Moz, IndieLisboa

O documentário Notre corps decorre num hospital público em Paris especializado na saúde da mulher, onde vão surgindo pacientes com diversos problemas de todo ciclo vital (conceção; nascimento; adolescência; mulher adulta e idosa em fim de vida). Neste hospital público em Paris, muito semelhante a qualquer outro em Portugal, recorrem pessoas de diferentes idades, etnias, estratos sociais e níveis de instrução. Cada pessoa carrega em si uma história e um corpo. Corpo com história, em que os profissionais de saúde catalogam diagnósticos, discutem em equipa as opções terapêuticas e aceitam os seus limites e os da ciência.  

A comunicação em saúde assume particular relevância por várias razões. As principais prendem-se com a necessidade de compreender o outro e a necessidade de que este nos compreenda. Na ausência destas premissas não está assegurado o respeito pela autonomia do doente e o seu consentimento. A barreira linguística entre profissionais de saúde e alguns doentes também representa um importante e constante desafio. 

A comunicação é fundamental nas profissões de saúde, pois na sua essência são profissões de relação, e assim a comunicação poderá ganhar um valor terapêutico para o doente. Durante a interação doente-profissional de saúde há constante partilha.

O momento da transmissão de um diagnóstico oncológico é extremamente difícil para quem recebe e por isso exige perícia e treino de quem o transmite. Em todo o documentário é evidente que as transmissões de más notícias aos doentes também têm impacto nos profissionais de saúde. Estes experimentam emoções de compaixão e empatia que transparecem nas palavras, mas também nos seus gestos. A médica paliativista que observa a sua paciente e fala sobre a suspensão do tratamento que já parece não funcionar. Esta interação é esmagadora, porém emergem a aceitação e a paz em ambas as interlocutoras.  

Ao longo do documentário a alta tecnologia (cirurgias com robot e inseminação in vitro) e as discussões clínicas entre profissionais de saúde parecem assépticas e despersonalizadas, mas que contrastam com a humanidade revelada nos profissionais de saúde e nas doentes. Este documentário sem dúvidas que capta o essencial de um hospital, a humanidade que vive entre aquele que cuida e trata e aquele que sofre e é vulnerável. 

Ana Sofia Simões, IPO Lisboa

Sessão 4 | Sala Manoel de Oliveira | 6 jan, sábado | 21h00
CARO DIARIO

Sessão apresentada por dr. João Oliveira,
médico do Serviço de Oncologia do IPO Lisboa

SINOPSE E FICHA TÉCNICA

Um misto de comédia e documentário autobiográfico realizado e interpretado por Nanni Moretti. O filme, que valeu ao cineasta o prémio de melhor realizador em Cannes no ano de 1994, divide-se em três partes. Querido diário é um olhar morettiano sobre a Itália dos anos noventa e possivelmente a obra mais popular do autor.

DIÁLOGO
Italiano

LEGENDAS
Português

ELENCO
Nanni Moretti
Renato Carpentieri
Giulio Base
Antonio Neiwiller

ARGUMENTO
Nanni Moretti

FOTOGRAFIA
Giuseppe Lanci

MÚSICA
Nicola Piovani

MONTAGEM
Mirco Garrone

PRODUÇÃO
Nella Banfi
Angelo Barbagallo
Nanni Moretti

CARO DIARIO

NANNI MORETTI
Itália, Ficção, 1993, 100’

Do extraordinário Nanni Moretti chega-nos este filme em três episódios que vão da cura de um cancro linfático à sua descoberta, exactamente no sentido inverso do que sucede. A descontração, a leveza e o voltar à vida leva o cineasta a um passeio através dos principais bairros de Roma, a sua cidade-natal, como que uma redescoberta da vida e dos lugares que foram importantes para si - primeiro episódio. O humor corrosivo do segundo episódio passado em diversas ilhas de Itália (Stromboli, Panarea, Lipari) mostra um Moretti a reencontrar-se consigo próprio e com as suas idiossincrasias. O último episódio “Os médicos” é a descoberta da doença através de uma viagem pelo sistema médico italiano e os diversos diagnósticos díspares dos médicos à procura de da doença associada aos sintomas. Sendo um filme dividido em partes é através de uma estrutura orgânica coesa que acompanhamos o percurso da doença oncológica e os seus efeitos passados, presentes e futuros. Com Moretti sabemos sempre que até o tema mais difícil será sempre trabalhado com doçura e coração.

Miguel Valverde, IndieLisboa

Uma medicina que não é ciência nem arte

Porque juntou Moretti a Vespa, as ilhas e os médicos no mesmo filme? Talvez se saiba, mas eu não sei. Por isso, arrisco: as três partes potenciam-se na exposição de um absurdo que culmina na instituição médica. 

São exemplarmente absurdos os estranhos diálogos que empreende com desconhecidos ao deslizar de Vespa entre urbanismos que perderam sentido, a incomodativa degradação do monumento ao artista Pasolini, as incoerências do amigo com quem aborda delírios insulares e, sobretudo, o confronto do Stromboli, telúrico, com minúcias de telenovela. 

Porém, a caminhada seguinte, por consultórios de afamados especialistas médicos em busca de solução para um mal que o atormentava, de tão distante das expectativas conseguiu ser ainda mais absurda e, ao contrário das anteriores, que podiam ser alegóricas, esta foi bem real. Uma história que só não acaba em drama porque o tratamento da doença em causa traduz um dos grandes progressos da Oncologia do século XX.

Quatrocentos anos depois de Molière, Nanni Moretti descreve, porque a viveu, uma medicina que não é ciência nem arte, apenas pose, presunção e negócio. 

Paciente, o autor do diário suporta com fleuma todos os absurdos e, no final, registará singelamente o que aprendeu sobre os médicos. Entretanto, o seu “travelling” pela cidade, ilhas e clínicos questionara-nos repetidamente. Com subtileza, até nos terá realçado os benefícios de um serviço nacional de saúde e de um médico de família.

dr. João Oiveira, IPO Lisboa

Sessão 5 | Sala 3 | 7 jan, domingo | 15h00
THE FAREWELL

Sessão apresentada por dr. Fernando Leal da Costa,
diretor do Departamento de Hematologia

SINOPSE E FICHA TÉCNICA

Nesta divertida e inspiradora história, baseada numa mentira de verdade, Billi (Awkwafina), nascida na China e criada nos EUA, regressa relutantemente a Changchun para descobrir que, embora toda a família saiba que a sua adorada avó Nai Nai tem poucas semanas de vida, decidiram em conjunto não contar nada à própria Nai Nai.

Para garantir a felicidade dela, reúnem-se sob a alegre fachada de um casamento acelerado, unindo membros da família espalhados pelo estrangeiro. Ao navegar pelo campo minado das expectativas e convenções da família, Billi descobre que há muito para celebrar: uma oportunidade para redescobrir o país que deixou em criança, o maravilhoso espírito da avó e os laços que se mantêm, mesmo quando muito fica por dizer.

DIÁLOGO
Mandarim
Inglês
Japonês
Italiano

LEGENDAS
Português

ELENCO
Awkwafina
Tzi Ma
Diana Lin
Zhao Shuzhen
Lu Hong
Jiang Yongbo

ARGUMENTO
Lulu Wang

FOTOGRAFIA
Anna Franquesa-Solano

MÚSICA
Alex
Weston

MONTAGEM
Matt Friedman
Michael Taylor 

UMA PRODUÇÃO A24

THE FAREWELL

LULU WANG
EUA / China, Ficção, 2019, 100’

Billi é uma jovem sino-americana com o futuro ainda por decifrar. Um dia descobre que a sua avó Nai Nai foi diagnosticada com um cancro terminal. A restante família decide esconder este diagnóstico de Nai Nai e com o objectivo de reunir toda a família uma última vez na China, organiza um casamento apressado entre um dos seus netos e a sua recente namorada. Billi está contra esta decisão, ela apenas quer uma despedida, ultrapassar o luto juntamente com Nai Nai, de uma forma que lhe parece natural mas foi-lhe retirado essa possibilidade. Movida pela ambiguidade moral que sente da decisão da família, Billi parte para a China para ver a sua avó uma última vez.

Baseado na experiência pessoal da realizadora Lulu Wang que nos mostra a humanidade e amor que estão presentes numa decisão tão complexa.

Rui Mendes, IndieLisboa

Este filme é sobre a força das convicções e do que elas fazem para justificar e sustentar a nossa vida. Até que ponto pode a mentira servir um propósito? Até onde se deve ir com a mentira caridosa? É uma história que nos mostra como há limites na capacidade de prever o futuro, aquilo a que se chama definir o prognóstico, mesmo com toda a tecnologia de que dispõe a Medicina moderna. A Estatística que nos apresenta probabilidades, é tão válida nas médias e medianas como nos extremos. E é de extremos que esta película nos fala durante a hora e meia em que decorre. Aquilo que sabemos sobre adaptação psicológica ao diagnóstico de cancro diz-nos que é melhor ter a possibilidade de convocar os doentes para o “espírito de luta”. Mas se esse espírito já estiver na pessoa, será que é preciso mais um empurrão para que se encontre ainda mais motivos para a “luta”? Afinal, com a verdade ou a mentira, quem estamos a proteger? O mensageiro ou o recetor? Quem tem mais medo? Quem conta a verdade ou quem sabe o que preferia não ter de saber? O filme vive entre extremos que se querem opostos. Mas há um meio, um ponto intermédio, que tem de ser encontrado na clínica de cada dia, no encontro entre pessoas com direitos e obrigações. Mais importante do que se diz, é a forma de dizer.

dr. Fernando Leal da Costa, IPO Lisboa

Sessão 6 | Encerramento | Sala Manoel de Oliveira | 7 jan, domingo | 18h30
A METAMORFOSE DOS PÁSSAROS

Sessão apresentada por dra. Maria de Jesus Moura,
diretora da Unidade de Psicologia do IPO Lisboa
com a presença de Catarina Vasconcelos, realizadora do filme,
e Pedro Fernandes Duarte, produtor do filme

SINOPSE E FICHA TÉCNICA

Beatriz e Henrique casaram no dia em que ela fez 21 anos. Henrique, oficial de marinha, passava largas temporadas no mar. Em terra, Beatriz, que aprendeu tudo com a verticalidade das plantas, cuidou das raízes dos 6 filhos. O filho mais velho, Jacinto, é meu pai e sonhava poder um dia ser pássaro. Um dia, subitamente, Beatriz morre. A minha mãe não morreu subitamente, mas morreu quando eu tinha 17 anos. Nesse dia, eu e o meu pai encontramo-nos na perda da mãe e a nossa relação deixou de ser só a de pai e filha.

DIÁLOGO
Português

LEGENDAS
Inglês

ELENCO
Manuel Rosa, João Móra
Ana Vasconcelos
Henrique Vasconcelos
Inês Melo Campos
Catarina Vasconcelos
Cláudia Varejão
José Manuel Mendes
João Pedro Mamede

ARGUMENTO
Catarina Vasconcelos

FOTOGRAFIA
Paulo Menezes

SOM
Adriana Bolito
Rafael Cardoso

MONTAGEM
Francisco Moreira

PRODUÇÃO
Pedro Fernandes Duarte
Joana Gusmão
Catarina Vasconcelos
Maria Inês Gonçalves 

UMA PRODUÇÃO
Primeira Idade

A METAMORFOSE DOS PÁSSAROS

CATARINA VASCONCELOS
Portugal, Documentário / Ficção, 2020, 101’

Um dos filmes-revelação dos últimos anos em Portugal é o filme mais premiado de todos os tempos em festivais de cinema, com direito a ser o representante português em consideração para os óscares, com exibição na Netflix e, finalmente, não menos importante, com uma das estreias comerciais muito bem-sucedida e digna de estudo.

Dito isto, A Metamorfose dos Pássaros, a primeira longa metragem de Catarina Vasconcelos, é um filme solar que funciona com um puzzle de informação em que todas as peças se encaixam numa perfeição absurda e intransigente, como o são cada plano rigoroso do filme, cada palavra narrada e dita, cada som entoado. A história de uma família, através das suas diversas gerações, que se representam umas às outras, transformam este filme familiar numa epopeia que se reinventa a ponto de nos emocionar sempre num ponto diferente e consoante o próprio estado de espírito de cada espectador. E é aqui que o filme se agiganta e onde se mostra o talento da autora, que tem o dom de criar uma relação empática entre cada filme e quem o vai ver. 

A perfeição a encerrar a Mostra de Cinema IPO Lisboa 100 Anos.

Miguel Valverde, IndieLisboa

Uma história de amor abençoada por Deus. Henrique e Beatriz encontram-se e constroem uma relação com muitos desafios que têm de superar. O medo do isolamento, da incerteza, do afastamento e da perda são uma constante numa relação que vive e sobrevive à distância e às intempéries da vida. Uma relação marcada pelo afastamento, mas capaz de produzir frutos da relação, os seus seis filhos ajudam a manter e perpetuar a chama e a perspetivar o futuro. A construção de uma família numerosa e o desenvolvimento de vínculos que se estabelecem e desenvolvem com cada um deles de um modo especial.

Uma história que tem uma narrativa com diálogos intensos e profundos que tem por base memórias, lembranças e partilha de acontecimentos que são narrados e transcritos em cartas que apesar de atenuarem a saudade da distância, manifestam a dor e o sofrimento da perda e simultaneamente alimentam a relação na proximidade e dependência.

Beatriz uma mulher especial procura iluminar o seu dia a dia, na sua função materna e no contacto intenso com a natureza. Sempre a cuidar de um modo discreto e simples, mas também à procura de encontrar a sua paz interior junto da natureza.

Os filhos crescem e questionam a função parental. Também eles cada um à sua maneira têm de lidar com a perda; do pai que não está presente no dia a dia, da meninice que se vai desvanecendo no tempo e das profundas mudanças na vida social.

A presença de “naturezas mortas” que em fotografia de um modo singular e artístico acompanham com a melodia a linguagem interna de cada um de nós, no contacto com as nossas metamorfoses.

Fala do ciclo da vida, das histórias e memórias dos que partem, assim como dos que ficam e do modo como as elaboram e crescem e este processo é transgeracional.  A procura nos seus descendentes de dar sentido a todas estas vivências, na construção de um legado que tem por base os vínculos estabelecidos entre pais, filhos e netos e que se renova em cada novo ciclo da vida.

A narrativa de A Metamorfose dos Pássaros é também um modo de prestar homenagem a Triz, e a todos os que partem e permanecem em nós na bagagem relacionam que nos legam.

dra. Maria de Jesus Moura, IPO Lisboa

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