Uma visita a uns banhos públicos para ir buscar um objecto perdido faz com que um homem faça uma pausa no seu dia para usufruir das instalações. As pessoas em seu redor são mais velhas, o hábito a cair em desuso. Este gesto revela-se uma ajuda a um luto.
Depois de em 2021 ter estado no IndieLisboa com “Retour a Toyama”, Atsushi Hirai traz-nos “Oyu”, em mais um regresso a Toyama, na costa norte do Japão, de onde o realizador é natural. No último dia do ano, um homem entra num banho público para recuperar um embrulho deixado para trás. Ninguém questiona a sua presença, mas é clara a distância entre este homem e o ritmo dos que frequentam aquele espaço com alguma assiduidade. A decisão de ficar para um banho quente vai ajudá-lo a situar-se no momento que está a viver.
Tal como no seu filme anterior, também aqui a errância das personagens se cruza com o momento deste homem, dando sentido à vontade de ali ficar. A repetição de hábitos de pessoas que nos são próximas ajuda-nos a manter uma memória de afectos. Por isso, cada detalhe do banho é um gesto de saudade e ternura. Mais uma vez, a elegância dos detalhes, do tempo, das conversas cruzadas e dos silêncios partilhados, são a assinatura deste extraordinário realizador. (Margarida Moz)