Em parceria com a Cinemateca Portuguesa, e com a presença do artista visual e cineasta Kamal Aljafari, damos espaço ao singelo e enorme acto subversivo de dar visibilidade ao invisível que é o contracinema presente na sua obra. Tornar presente o que de outra forma parece estar ausente da narrativa dominante sempre esteve no âmago da criação de Aljafari. A obra do autor expande cada vez mais as delimitações conceptuais e formais impostas pela gramática convencional cinematográfica e desbrava um novo território de cinema político que reivindica uma possível “justiça cinemática” perante a realidade, que vai muito além do historicismo objectivo, do documentário didáctico de preocupações sociais. Prevalece a subjectividade ao mesmo tempo que se desconstrói a ideia de cinema enquanto ferramenta de colonização e opressão. Duma presença corpórea, acompanhada de voz off em The Roof, à melancolia híbrida no que será o seu trabalho mais próximo da ficção em Port of Memory, onde já incorporou, de forma dialéctica, excertos de um filme de acção norte-americano com Chuck Norris a lutar contra terroristas palestinianos ou o musical israelita Kazablan. Posteriormente, vêmo-lo explorar potencialidades poéticas e de reapropriação, ao mergulhar de cabeça nos mais variados materiais de arquivo e found footage nos filmes seguintes, sempre acompanhados por um rigoroso trabalho de som. Uma ocupação cinematográfica que funciona como acto de resistência.