Na história da música há um monumento de ética chamado Fugazi, banda fundada em 1986 e co-liderada pelo carismático Ian MacKaye que antes já tinha dito ao que vinha com a editora Dischord e os não menos influentes Minor Threat. MacKaye e os Fugazi tornaram-se o farol de uma geração pela sua estética e atitude DIY. Em cima disto junte-se a sua preocupação com a comunidade e as pessoas mais marginalizadas e um código de ética anti-capitalista e anti-consumista, que não via o lucro como principal incentivo e através do qual defendiam, por exemplo, a não existência de merchandising oficial e o controlo dos preços dos bilhetes dos concertos para um máximo de 5 dólares, mesmo em tempos mais recentes.

Mas este filme é sobretudo sobre outra das coisas que tornou os Fugazi maiores e míticos. Os seus concertos. Cada concerto era um terramoto. Uma energia crua e brutal em palco, que se propagava em ondas para o público e que muitas vezes os obrigava a parar os concertos quando detectavam focos de atitudes violentas entre os espectadores. Ver um concerto dos Fugazi é sentir que estamos próximo de algo em extinção. Um tempo que já não existe. A nossa sorte é que neste filme há vários concertos, todos filmados pelos fãs e público dos concertos. Também ao contrário do que acontece hoje em dia em que é muitas vezes proibida a captação de imagens e gravações pelo público, os Fugazi permitiam e incentivavam toda a gente a gravar com imagem e som os seus concertos. Na história da música há o antes e depois de ver os Fugazi ao vivo. Aos que não o conseguiram, resta-nos as imagens dos concertos. (Carlos Ramos)