Talvez nem toda a gente possa ter uma experiência transcendente a ouvir a “The Boxer” de Simon & Garfunkel no sul de França, mas dificilmente alguém ouve a música composta por Paul Simon sem ter uma experiência memorável. Paul Simon foi para lá de Garfunkel (com quem acabou por ter uma relação espinhosa) para ter uma carreira longa e uma vida intrigante. Neste filme épico, mergulhamos no que o tem tornado num dos nomes mais sonantes da escrita de canções nos Estados Unidos.
Como dar conta de uma carreira tão longa, marcante em diferentes tempos e contextos, sem a tratar como mera sucessão cronológica de factos? A resposta que Alex Gibney encontrou neste épico documentário, em alcance e duração, está em fazer irradiar seis décadas de carreira a partir de um momento específico. “In Restless Dreams” acompanha Paul Simon no processo de gravação de “7 Psalms” (2023), mostrando-o metódico e ainda curioso quanto à mágica natureza da criação. Sem “cabeças falantes”, através de uma generosíssima quantidade de material de arquivo, vamos revisitando tudo: o crescimento em Queens, os decisivos anos 1960, de que Simon & Garfunkel se tornaram ícones, a tempestuosa relação com Garfunkel, a curiosidade perante o mundo e os seus inúmeros sons de que resultaria “Graceland” e a polémica subsequente. No final, há um novo disco finalizado, há a imensidão que conduziu Paul Simon até ali, desde o tempo em que era apenas um miúdo a imitar os Everly Brothers no quarto de casa. (Mário Lopes)
