Um único plano de duas interpretações em diálogo uma com a outra, por duas pessoas, da mesma composição, o Prelúdio Op. 28 N.º 2 de Chopin, numa referência a uma mítica cena no filme Sonata de Outono (1978), de Ingmar Bergman.
Na música barroca as fugas são composições feitas em contraponto, que se estruturam em polifonia através de sequências imitativas: formas de repetição e variações em torno de uma frase central. Neste filme, que se intitula com uma fuga de Chopin, ouvimos a mesma composição duas vezes, interpretada por duas pianistas. Só que a isso junta-se uma terceira dimensão fugal, é que esta cena é, já de si, uma citação de uma sequência fundamental de Sonata de Outono (1978), de Ingmar Bergman, em que a mesma peça é igualmente tocada duas vezes. Assim, elevados ao cubo, tudo se organiza num plano sequência, tão virtuoso quanto misterioso. Até que – numa última fuga – tudo se repete! Um elogio cinéfilo que se converte numa hipnótica mise en abyme conceptual. (Ricardo Vieira Lisboa)