Um grupo de rapazes perturba a memória matriarcal de um quarto antigo. Perante a iminência do perigo, os rapazes mais velhos disputam a liderança. Quando a tarde avança, partem para a violência. Chico, o mais novo e mais desajustado, encontra um prenúncio trágico de desejo.
Lembro-me uma vez, quando tinha 12 anos, de subir um parapeito do jardim na casa dos meus avós. Era altíssimo, perigoso e não sei se realmente aconteceu. Lembro-me da emoção, mas não me lembro dos acontecimentos. O que fica é uma imagem pouco nítida, que poderia ter sido gerada pela minha cabeça para preencher o vazio de uma falsa memória. No cinema, tal como na memória, um momento, durante uma tarde de verão, sob uma chuva quente que preenche o ar com um peso muito específico, pode durar uma eternidade. Chuvas de Verão faz-me sentir que estou a ver uma memória minha, apesar de nunca ter ido para um sótão com os meus amigos queimar um vestido antigo. Primeiro filme de ficção de Mário Veloso, que já tão notavelmente capta algo essencial ao cinema, a emoção sentida num momento interminável durante uma tarde de verão que já não nos lembramos muito bem. (Rui Mendes)