Para 20 anos de IndieLisboa, já são 17 de IndieMusic. Esta é a primeira colecção de filmes do IndieLisboa 2023 a ser anunciada. Este ano, a secção dedicada ao encontro entre a música e o cinema regressa para mais uma edição que não aceita nenhum tipo de fronteira.
Do Brasil chega Miúcha, a voz da Bossa Nova. O documentário de Liliane Mutti e Daniel Zarvos procura os momentos em que Miúcha se sentiu irremediavelmente cantora, através do arquivo pessoal da artista, que reúne cartas, fotografias, vídeos e até aguarelas. Irmã de Chico Buarque, mulher de João Gilberto, desde cedo Miúcha fez parte do universo da música popular brasileira, trabalhando ainda com nomes como Tom Jobim ou Vinicius de Moraes. Um filme que resgata a perspectiva feminina deste movimento musical, revelando, na primeira pessoa, as dificuldades de se ser mulher no mundo do espectáculo dos anos 60 e 70. Do Reino Unido, o mais recente documentário de Anton Corbijn: Squaring the Circle (The Story of Hipgnosis) leva para o grande ecrã a dupla de designers do estúdio inglês Hipgnosis, responsável por capas memoráveis de álbuns icónicos, num filme cheio de grandes figuras do mundo da música. A manipular fotografias desde antes do computador, a dupla tornou-se na grande criadora das identidades visuais dos artistas mais populares dos anos 70 como Pink Floyd, Led Zeppelin ou Paul McCartney. A música portuguesa está representada pelos Clã, Na Sombra – Parte 2, em estreia mundial e Na Sombra – Parte 1, ambos de Joana X. O documentário em duas partes acompanha a preparação do mais recente álbum da banda, Véspera, cujo lançamento foi subitamente interrompido pela pandemia. Os dois capítulos fazem parte da programação do festival. A viagem do IndieMusic continua até ao Mali. Markus C.M. Schmidt regista o trajecto que levou uma banda alemã até à costa do rio Níger, de forma a encontrar algumas das big bands históricas do Mali, como os Le Mystère Jazz de Tombouctou ou The Rail Band de Bamako, e músicos quase esquecidos dos anos 70, como Salif Keita dos Les Ambassadeurs, acabando a gravar um álbum em sua homenagem num estúdio improvisado em Le Mali 70.
A competição do IndieMusic 2023 traz ainda diversas bandas de culto às salas de cinema lisboetas. Neutral Milk Hotel e Olivia Tremor Control são disso exemplo: The Elephant 6 Recording Co., de C.B. Stockfleth, conta a história do colectivo que dá nome ao filme, partilhando a evolução criativa do seu rock psicadélico ao longo dos anos 90, que viu nascer diversos grupos musicais. Também Lilly Creightmore leva-nos numa viagem ao mundo do psicadélico com Trip, onde acompanha bandas como The Black Angels ou The Brian Jonestown Massacre, numa verdadeira experiência sensorial. Num retrato mais íntimo, CAN and Me, de Michael P. Aust e Tessa Knapp, celebra a vida e o trabalho de Irmin Schmidt, membro fundador da lendária banda alemã CAN, desde os seus tempos de maestro, até à criação de bandas sonoras para filmes de Wim Wenders e Roland Klick. Também em jeito de comemoração, e para homenagear cinquenta anos de King Crimson, Toby Amies rouba o título a um dos álbuns do grupo e apresenta In the Court of the Crimson King, o documentário: um filme cómico, mas também melancólico, sobre o que significa pertencer a uma banda.
Realizado por Robert Fantinatto, Subotnick: Portrait of an Electronic Music Pioneer é precisamente aquilo que o título sugere: um documentário sobre o pioneiro da música electrónica Morton Subotnick que, entre o passado e o tempo presente, e através de entrevistas e actuações ao vivo, conta-nos a carreira deste fascinante compositor. Já Clyde Petersen, em Even Hell Has its Heroes, captura a essência enigmática de Earth, cuja história poderia ter terminado cedo demais, ameaçada pelo abuso de drogas e o luto por Kurt Cobain, para sempre presente na dinâmica da banda de Seattle.
Este ano, cabe ainda dentro do IndieMusic um mini-ciclo dedicado ao hip-hop, para comemorar os 50 anos que passam desde aquela festa num apartamento no Bronx com o DJ Kool Herc que, segundo o mito, marcou o início do hip hop. Convidámos Sam the Kid para fazer a curadoria deste ciclo. Ao desafio de escolher três filmes para si essenciais à história do género, respondeu com: Beats, Rhymes & Life: The Travels of a Tribe Called Quest, de Michael Rapaport, que nos dá acesso aos bastidores da banda Tribe Called Quest, do sucesso às tensões que levaram à sua súbita ruptura; Scratch, de Doug Pray, que explora o universo dos DJ de hip-hop, do seu aparecimento à sua mais recente explosão enquanto movimento musical; e CB4, de Tamra Davis, uma comédia protagonizada por Chris Rock, Allen Payne e Deezer D, que narra a ascensão à fama do grupo que dá nome ao filme.
Fiquem com a playlist do IndieMusic 2023.
A 20.ª edição do IndieLisboa decorre entre os dias 27 de Abril e 7 de Maio, e irá levar o seu programa às salas do Cinema São Jorge, Culturgest, Cinemateca Portuguesa e Cinema Ideal.
Lista de filmes (mais por anunciar)
CAN and Me, Michael P. Aust / Tessa Knapp, doc., Alemanha, 2023, 85′
The Elephant 6 Recording Co., C.B. Stockfleth, doc., EUA, 2022, 93′
Even Hell has its Heroes, Clyde Petersen, doc., EUA, 2023, 110′
In the Court of the Crimson King, Toby Amies, doc., Reino Unido, 2022, 86′
Le Mali 70, Markus C.M. Schmidt, doc., Alemanha, 2022, 93′
Miúcha, a Voz da Bossa Nova, Liliane Mutti / Daniel Zarvos, doc., Brasil / França, 2022, 98′
Na Sombra – Parte 1, Joana X, doc., Portugal, 2022, 114′
Na Sombra – Parte 2, Joana X, doc., Portugal, 2023, 105′
Squaring the Circle (The Story of Hipgnosis), Anton Corbijn, doc., Reino Unido, 2022, 101′
Subotnick: Portrait of an Electronic Music Pioneer, Robert Fantinatto, doc., Canadá, 2022, 87′
Trip, Lilly Creightmore, doc., Reino Unido, 2022, 73′