Entre a ficção e a realidade está Alberto Cándia, cujo mito que o filme conta envolve o ladrão chileno a roubar a Catedral de Cádiz, na Andaluzia, no final dos anos 1980. Nas praias e rios que circundam o deserto de Atacama, a busca por este ladrão faz-se através de histórias que o realizador vai descobrindo e as possibilidades que se tecem a partir delas. O humor do filme não mascara a ligação colonial, pelo fluxo do ouro, entre Espanha e as terras chilenas.
Durante a ditadura chilena, Pinochet, a fim de se apropriar do mercado da cocaína, recorreu à tortura contra os bandidos comuns, gerando a migração de muitos deles. Isto criou a figura do lanza internacional: chilenos que se estabeleceram na Europa e se tornaram profissionais reconhecidos na arte do roubo em grande escala.
Outro Sol reconstitui o mito de Alberto Candía que roubou a catedral de Cádiz e enterrou o tesouro no deserto do Atacama, onde os seus familiares e o seu colega ainda o procuram. O filme toma a sua forma a partir da sua maneira de contar as suas histórias e compara-o com os arquivos judiciais do caso. Seguindo a gramática que liga ambos os discursos, entre o factual e o metafórico, o preciso e o especulativo, a sedução e a malandragem, o filme torna-se embrulhado e parece estar sempre à nossa frente, dando-nos pistas e enganando-nos em partes iguais.
Há um espectro no filme, o espectro de Raúl Ruiz, outro lanza internacional, que já tinha chamado a atenção para a linguagem, sentido de humor e melancolia dos chilenos e o seu potencial para saquear a linguagem cinematográfica. (Vanja Milena)