FORA DE COMPETIÇÃO Claire Simon coloca a sua câmara numa clínica ginecológica francesa para fazer um filme sobre o que é ter um corpo feminino, as tribulações das consultas e as relações entre médicos e pacientes. Assim, passamos tempo num mundo povoado por terapias hormonais e partos, diagnósticos de endometriose ou cancro, tornando experiências individuais em algo que é sentido coletivamente, revelando-se um mosaico que contempla o universo feminino.
Aborto, consulta de fertilidade e outra de transição de gênero, preparação para a mastectomia, cirurgia de excisão de endometriose, parto, – o ícone do cinema documental Claire Simon (Heroína Independente do IndieLisboa 2014) anda de sala em sala em uma clinica ginecológica de um hospital público de Paris. O corpo feminino é construído, reconstruído e desconstruído de várias maneiras, na mesa de operação e por meio da terapia hormonal neste olhar enciclopédico, corporal e compassivo sobre o avesso da sociedade dividido por gênero. Os diagnósticos e tratamentos individuais são juntados na linha do tempo estendida, que segue o ciclo de vida desde a concepção sob o microscópio até a menopausa e além. O filme cresce e sofre mutações, à medida que a câmera de observação se torna cada vez mais pessoal, até o ponto em que a própria cineasta aparece diante da lente. (Anastasia Lukovnikova)