COMPETIÇÃO Tudo começa com uma missão em que abarcam dois homens, apaixonados pela mesma mulher: encontrar Laura, que desapareceu de forma misteriosa. Rafael e Ezequiel lançam-se numa busca que tem como pistas velhas cartas de amor, uma espécie floral por classificar e uma série de outras narrativas e mistérios que se emaranham nesta trama.
Trenque Lauquen soa enigmático mas é apenas o nome duma cidade situada na província de Buenos Aires, na Argentina. O verdadeiro enigma é o desaparecimento de Laura. Ou talvez seja melhor dizer que a própria Laura é um enigma para todos e, principalmente, para os dois homens que por ela apaixonados partem juntos em sua busca e confabulam sobre o seu paradeiro, cada um à sua maneira. Reminiscente da epopeia fílmica que nos trouxe Mariano Llinás com Histórias Extraordinárias, Citarella constrói aqui o seu próprio universo sem dever nada a ninguém. Um épico da intimidade, dos pequenos detalhes que não aparentam ser merecedores de destaque, que consegue, sem perseguições espampanantes ou intrincadas teorias de conspiração política, criar mistérios sem fim, no mais improvável dos lugares. Uma subversão, lúdica e feminista, ao cánone do filme de espionagem onde ressalta a eterna arte da contação de histórias e a completa ignorância por parte dos ditos homens quanto à verdadeira motivação por detrás do desaparecimento de Laura, pontuada pelo ocasional toque de telemóvel com o “Suspicious Minds” do Elvis Presley. (Susana Santos Rodrigues)